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João Domingos, BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio na crise entre os Ministérios do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Agrário, provocada pela inclusão de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na lista dos principais desmatadores da floresta amazônica, divulgada anteontem. De Manaus, o presidente determinou ao ministro Carlos Minc que faça uma auditoria nas oito multas aplicadas ao Incra por desmatamentos de 2.282 km2 em Mato Grosso. "Em 20 dias corridos, o Ibama terá de dizer o que está certo e o que não está nessas multas", disse Minc.
A ordem ao Ibama para que os processos administrativos sejam revisados foi dada na presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, logo depois de ele ter acusado o Meio Ambiente de irresponsabilidade e de ter cometido "erros crassos" ao elaborar o relatório sobre as multas e sobre os maiores desmatadores.
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Mas, logo em seguida, o ministro atiçou ainda mais a crise. "Não produzi a lista. Ela foi feita pelo Ibama. Perguntei desde quando está pronta e disseram que desde janeiro, fevereiro. Perguntei também por que não foi divulgada. Responderam: Não sei? Determinei então que ela fosse divulgada, porque só trabalho com transparência."
Acontece que em janeiro e fevereiro a senadora Marina Silva (PT-AC) ainda era a ministra do Meio Ambiente. Ao dizer que a lista existia há nove meses, Minc acabou deixando no ar a insinuação de que sua antecessora havia escondido o relatório, talvez por conter oito vezes o nome do Incra, seis deles encabeçando o rol dos maiores desmatadores.
Marina reagiu: "Não sei se o Minc quis dizer que tive a intenção de ocultar a lista. Porque aí seria faltar ao respeito comigo", disse.
CONSTRANGIMENTO
Minc, Cassel e o presidente do Incra, Rolf Hackbart, participaram da cerimônia, na sede do Ibama, de assinatura das três primeiras concessões de florestas públicas para a exploração de modo sustentável pela iniciativa privada. Sentaram-se lado a lado. Mas foi visível o constrangimento entre eles. Cassel estava tão indignado que, em vez de fazer um discurso para louvar a iniciativa da concessão da floresta, foi logo ao ataque contra Minc. "Os dados estão errados. Todas as áreas têm como imagem de satélite os anos de 2006 (sete áreas) e de 2007 (uma área). Nenhum desmatamento se refere ao presente ano e muito menos ao avanço do desmatamento verificado em agosto de 2008."
Minc preferiu não responder imediatamente. Disse que iniciaria sua fala pela "agenda positiva". Depois, voltou ao tema. Anunciou a auditoria nos processos das multas. Disse que é tão a favor da reforma agrária que seus trabalhos de mestrado e doutorado foram sobre o tema. Contou ainda que escreveu livros a respeito do assunto. Afirmou que é preciso buscar a sustentabilidade ambiental para os novos assentamentos da reforma agrária e criar condições de preservação para os antigos.
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CERTO TREMOR DE TERRA?
Minc disse que costuma ser transparente em seus atos e sabe das dificuldades que isso provoca. "Saiu a lista, provocou um certo tremor de terra. Foi divulgada, para o bem ou para o mal. Acho até que tem suas vantagens, porque nos leva a debater temas como esses e a pensar que o melhor de tudo é preservar. A reforma agrária deve ajudar a preservação."
Fonte: O Estado de São Paulo de 1 de out de 2008.
Minc disse que costuma ser transparente em seus atos e sabe das dificuldades que isso provoca. "Saiu a lista, provocou um certo tremor de terra. Foi divulgada, para o bem ou para o mal. Acho até que tem suas vantagens, porque nos leva a debater temas como esses e a pensar que o melhor de tudo é preservar. A reforma agrária deve ajudar a preservação."
Fonte: O Estado de São Paulo de 1 de out de 2008.