No jornal “O Liberal” de ontem (20 de outubro) publicou uma extensa matéria (com cara de “pague e publique”) demonstrou, mais uma vez, que a “parceria” dos madeireiros com supostos assentamentos do Incra foi uma estratégia para abastecer de toras e mais toras o autodenominado “setor florestal” e não uma política para benefício de famílias como alguns apregoam até hoje. O pior é que o intuito da matéria não é de denúncia, mas de incentivo à prática.
Partindo de um sofisma de que os maiores desmatadores foram assentamentos no Mato Grosso, a “matéria” declara que os assentamentos paraenses não estão sendo desmatados e que as madeireiras que lá funcionam estão trabalhando na mais bela consonância com o “desenvolvimento sustentável”.Puxa, daí tiramos no mínimo uma conclusão: os assentamentos estão com madeireiras funcionando no seu interior! Não seria tudo invenção do Greenpeace, Ministério Público Federal e servidores grevistas radicais?
Na linha das meias-verdades, a matéria “Assentamentos zelam pela preservação” chega a dizer: "Para analistas, esse pode ser um sinal de que a política agrária no Pará não está de todo errada e de que a exploração madeireira em assentamentos rurais podem ser uma solução inteligente para reduzir a pressão sobre a floresta amazônica".
No mesmo rumo, estão os exemplos utilizados para justificar a tal parceria: o P.A. Mojú em Santarém e o PDS Virola Jatobá em Anapu. Segundo o jornal, “A idéia do Incra é expandir as práticas dos assentamentos de Santarém, mas com um aperfeiçoamento ainda melhor, idéia da missionária americana Dorothy Stang, assassinada há três anos em Anapu, sudoeste do Estado, por defender um modelo de desenvolvimento diferente para os assentamentos. Trata-se dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS), assentamento que tem a reserva legal de 80% da área em bloco e lotes de 20 hectares para cada família”.
Fontes que já estiveram em tais áreas asseguram que as coisas não são bem assim. E se viva estivesse será mesmo que Dortothy Stang daria seu aval a tamanha sandice?
O que matéria não diz é que extração ilegal de madeira não é a mesma coisa que desmatamento e obviamente onde não há assentado instalado (e somente madeireiro funcionando) é normal os satélites não verificarem grandes áreas abertas, já que a extração de madeira é feita sempre retirando primeiro as espécies mais valiosas e não extraindo todas as espécies em uma área contínua.
Mas à frente, diz a matéria: “O projeto é tão bom já foi tema de livro, visitado por pesquisadores de mais de 150 países e tido como exemplo de prática de manejo florestal sustentável na Amazônia até mesmo por organizações ambientalistas mais radicais.”
O livro que a matéria diz tratar do assunto (sem citá-lo) chama-se “Florestas Familiares: Um pacto sócio-ambiental entre a indústria madeireira e a agricultura familiar na Amazônia”, e poderia ser classificado como uma aberração, algo do estilo da revista Veja piorada.
Mas, coube ao timoneiro dos madeireiros o encerramento da peça publicitária disfarçada de jornalismo, cujo conteúdo dispensa maiores comentários.
"Para o presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Sudoeste do Pará (Simaspa), Luís Carlos Tremonte - um entusiasta da parceria entre empresas madeireiras e assentados -, existe um preconceito contra o setor florestal que atrapalha a conservação da floresta. 'Toda reportagem sobre desmatamento na Amazônia mostra um caminhão transportando madeira, quando todos sabem que o setor não é nem de longe o maior desmatador', diz Tremonte, acrescentando que isso cria preconceito e desinformação e impede a execução de parcerias promissoras. 'Basta dizer que tem uma empresa madeireira para haver uma gritaria geral', reclama.
Tremonte diz que os números e os fatos demonstram que o setor florestal pode ser o grande aliado da preservação florestal, além de ser um dos maiores geradores de emprego e renda do Estado. 'O manejo florestal em assentamento é um exemplo claro disso', destaca, lembrando inclusive que o próprio governo orientou o setor florestal paraense a investir nestas parcerias, garantindo a criação de assentamentos dentro de um modelo de sustentabilidade ambiental. 'As empresas investiram nisso e apostaram nesta solução para a falta de matéria-prima', recorda. Segundo ele, a interdição de todos os assentamentos significou a paralisação deste processo."
Leia toda a matéria em Assentamentos zelam pela preservação
Clique para baixar o folhetim FLORESTAS FAMILIARES:Um pacto sócio-ambiental entre a indústriamadeireira e a agricultura familiar na Amazônia
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