Os efeitos de um crime ambiental muito comum no norte do Brasil têm sido agravados por uma situação absurda. É o que mostra o repórter Rodrigo Bocardi.
Madeira serrada, embalada, pronta para exportação. Mas é madeira apreendida, que apodrece nos galpões do Ibama, em Santarém, no Pará.
A céu aberto, vemos no diâmetro das toras, o tamanho da agressão à natureza. Depois de passar mais de 100 anos na floresta amazônica, essas árvores foram cortadas ilegalmente.
Debaixo de sol, de chuva, tantos dias, quase três anos, que as madeiras nobres - jatobás, ipês - ficaram secas e não servem para praticamente mais nada.
"O único aproveitamento aqui seria para fogo, produção energética, para você não ter uma perda total", disse Deryck Martins, presidente da Associação dos Engenheiros Florestais (PA). Se não chegasse a esse ponto, o destino da madeira também poderia ser nobre. "Com certeza essa madeira poderia estar sendo usada para construção de casas populares, para construção de escolas, para construção de pontes, então você tem uma demanda imensa e ao mesmo tempo você está desperdiçando essa madeira", afirmou Deryck Martins.
O Ibama culpa a falta de estrutura. Diz que a madeira se esfarela porque há pouca gente na Justiça e no Ministério Público para decidir o que fazer com o que foi apreendido. “Às vezes o processo se embrulha bastante, a gente tem algumas carências tanto na Justiça Federal, só tem um juiz com mais de 20 mil processos esperando julgamento, aqui no próprio Ibama a gente tem poucos procuradores federais. A gente não pode dar um destino antes de acabar a homologação e o julgamento em primeira instância pelo menos”, disse Daniel Cohenca, gerente do Ibama de Santarém.
O juiz federal não quis gravar entrevista. Explicou que sozinho tem que julgar os casos de 39 municípios da região. Mas ele mostrou que, mesmo assim, em alguns processos, consegue dar o veredito antes de a madeira apodrecer.
Num deles, determinou que tábuas fossem doadas à Justiça. Elas viraram estante para guardar todos os processos em andamento no oeste do Pará.
Desde julho, a madeira apreendida que ficar a céu aberto ou não puder ser guardada em locais adequados deverá ser avaliada e doada pelo Ibama, mas isso não se aplica ao que foi apreendido antes da publicação do decreto.
O desmatamento e as queimadas na Amazônia podem ser acompanhados, em tempo real, no mapa interativo do portal Globo Amazônia. Nesse mapa, o internauta também pode protestar contra a devastação da mata. O portal está no ar há um mês e já recebeu mais de 25 milhões de protestos.
Assista à matéria em http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL789817-10406,00-MADEIRA+APREENDIDA+APODRECE+EM+DEPOSITOS+DO+PARA.html
Fonte: Jornal Nacional