Ação do Ministério do Trabalho libertou 30 crianças em Placas
Cento e cinqüenta pessoas, entre elas 30 crianças, foram libertadas de uma indústria de processamento de cacau em Placas (1.127 km de Belém) pelo grupo móvel da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Pará.
Todas as crianças estão doentes, com leishmaniose - enfermidade transmitida por um mosquito e que deixa lesões na pele. Uma ficou cega em um acidente de trabalho, ao cair com o rosto em um toco de árvore. Elas têm de 4 a 17 anos.
O resgate, que teve início há dez dias, ainda não foi concluído porque o local é de difícil acesso. Três helicópteros foram enviados pelo governo do Estado para auxiliar na retirada. A maior parte mora em municípios próximos, mas há também famílias que foram aliciadas no Maranhão.
De acordo com o chefe da fiscalização, José Ribamar da Cruz, o grupo vivia em péssimas condições de habitação, alimentação e higiene e estava impedido de deixar o local em razão de dívidas contraídas, o que caracteriza situação análoga à escravidão.
"Havia um arsenal no local. Quem contrariasse o dono, ele ameaçava, mandava matar e ainda escolhia a forma: com faca, revólver ou o que fosse. Segundo os trabalhadores, sumia gente. Deve ter corpo enterrado por lá mesmo", diz.
Os trabalhadores eram contatados pela empresa, mas encaminhados aos compradores do produto, que, antes de estipular um salário, vendiam a eles equipamentos necessários para desenvolver o trabalho. O pagamento jamais era feito, e empréstimos eram concedidos.
"Eles só aumentavam a dívida. Não ganhavam nada. Disseram que foi feita uma parceria, mas que não era apurado nenhum resultado. Enfim, o lucro era todo da empresa. Qualquer coisa que precisassem tinham que se dirigir aos compradores do cacau."
Segundo Cruz, eles bebiam água de um igarapé próximo, se alimentavam a céu aberto e dormiam em barracas de lona ou palha. "As crianças eram picadas por uma aranha da região, por escorpião e até por cobra. Como o pai e a mãe estavam devendo cada vez mais, levavam as crianças para ajudar no trabalho também, tentando diminuir o saldo devedor."
O dono da empresa, de 80 anos, foi preso em flagrante pela Polícia Federal. O filho dele, que administrava o local e arregimentava as pessoas, fugiu.
A indenização aos trabalhadores foi estimada em R$ 600 mil. Um homem que se apresentou como advogado da empresa iniciou as negociações com a fiscalização no local e se comprometeu a pagar um quarto do valor ainda nesta semana aos libertados. A Folha não conseguiu contato com ele na tarde de ontem.
O Pará é o segundo maior produtor de cacau do país. Os produtores se concentram nessa região da Transamazônica, perto de Santarém.
Fontes: 24 horas news citando a Folha Online.
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