Por Edilberto Sena*
Hoje, 30, algo novo ocorre na cidade de Itaituba e amanhã, na comunidade de São Luiz do Tapajós. O Movimento Popular BR-163 Sustentável promove um seminário em duas etapas sobre os impactos negativos do projeto perverso do governo federal de querer construir 5 grandes hidrelétricas na bacia do rio Tapajós.
Um dia de seminário será na cidade de Itaituba, logo mais a partir das 8h30, e outro será amanhã, na comunidade São Luiz do Tapajós, lá onde a Eletronorte quer fazer desaparecer várias comunidades tradicionais para construir um paredão de 36 metros de altura, para a barragem de 730 km quadrados rio acima.
Desde 1995, o Ministério das Minas e Energia vem estudando e planejando sorrateiramente construir as 5 hidrelétricas. Para isso, está previsto destruir a paz dos povos ribeirinhos, do povo Munduruku e provocar graves desequilíbrios ambientais na região do Tapajós, desde o Jamanxim até Santarém.
O seminário que vai acontecer logo mais terá assessoria de técnicos em recursos hídricos, militantes anti-barragens e em defesa da Amazônia. A sociedade de Itaituba tem hoje a oportunidade de ouvir informações que têm a ver com suas vidas e as autoridades governamentais lhes têm sonegado.
Para quem será toda essa energia a ser gerada pelo complexo Tapajós? Uns falam em 30 mil MWs. Para que e a custa de quem e de quê?Itaituba, vizinhanças, Santarém, Belterra já estão bem servidas de eletricidade pelo linhão de Tucuruí. Se outras comunidades da região ainda não tem energia não é por falta de capacidade energética do Tramoeste, e sim desinteresse dos governos estadual e federal.
Os impacto serão inúmeros no decorrer da construção e depois de prontas as barragens. A própria Eletronorte já diz que para evitar impactos ambientais na zona de implantação da barragem de São Luiz nenhum trabalhador dormirá próximo da obra. Todos virão diariamente dormir na cidade de Itaituba. Já imaginou a multidão de peões a cada noite concentrada nas senzalas da Eletronorte na periferia de Itaituba? Quem já esqueceu os áureos tempos dos garimpos naquela cidade, com crimes, prostituição, drogas e violência?
Com o maior sangue frio, o governo federal manda desaparecer várias comunidades tradicionais, como São Luiz, Pimental, Jatobá, Mangabal, parte do Parque Nacional da Amazônia, terras indígenas e “tudo o que for entrave para o crescimento da nação brasileira”. O que interessa ao presidente Lula e seus ministros é o PAC.
Tudo isso pode acontecer, caso a sociedade tapajônica, desde os índios Mundurukus e Apiacás, até os habitantes de Itaituba, Aveiro, Belterra e Santarém continuarem ignorando a desgraça chegando, ficando de braços cruzados, ou pior ainda, aplaudindo a chegada desse progresso excludente.
É chegada hora dessas populações patriotas cantarem e assumirem o hino da “Brava gente, brasileira, ou vai temor servil… ou ficar o Tapajós livre, ou morrer pela Amazônia”, mas morrer de pé e não acovardados.
*É padre diocesano. Diretor da Rádio Rural AM de Santarém e membro da Frente em Defesa da Amazônia.