Por Edilberto Sena*
Numa república ideal os governantes são escolhidos para administrar a coisa publica, fazer justiça e organizar a paz social. Hoje, na república real, grande parte dos governantes ignora essa regra básica e administra a coisa pública como coisa particular.
Os salários, na república ideal, são bem maiores do que dos trabalhadores comuns, para que administrem bem o serviço à sociedade. Na república real, continuam altíssimos os salários deles, mas a desonestidade se amplia. Então a paz social, a justiça e a transparência se perdem completamente.
Imagine que o presidente do Supremo Tribunal Federal, uma das funções mais altas da república, ganhando um dos maiores salários do país, é dono de um latifúndio pecuário,. Ele vem ao Estado do Pará e quer uma intervenção federal aqui. Ele e aquela senadora, que ganha outro alto salário do cargo, é dona de grande latifúndio e, além disso, é acusada de invasora de terras públicas no Estado do Tocantins. Junto com o ministro presidente do STF exige a intervenção federal porque a governadora do Pará recusa mandar força policial executar vários mandatos de reintegração de posse de terras ocupadas por trabalhadores sem terra.
Uma razão porque a governadora recusa cumprir as ordens dos juízes locais é que eles têm sido tendenciosos e maus juízes, pois as terras ocupadas já foram declaradas pelo INCRA, terras improdutivas e prontas para reforma agrária. Não que a governadora do Para seja boazinha, é que ela está acuada com tantos problemas fundiários.
Então, imagine a desordem social da república real: juiz ganha bom salário para ser objetivo e cumpridor da lei; na prática faz julgamentos desonestos; senadora e ministro do STF são latifundiários, pecuaristas e utilizam seus cargos para defender interesses seus e de seus colegas latifundiários e ainda se fazem de honestos funcionários públicos.
Como respeitar essa gente? Como confiar na ordem e na busca da paz, quando os altos funcionários da república real são tão venais e oportunistas. É mais que urgente uma reforma não apenas da política, nem apenas tributária, mas geral da própria governabilidade, para chegarmos novamente à república mais próxima do ideal. Não é verdade?
*Padre diocesano e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial de 02 de dezembro de 2009.
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