sexta-feira, 5 de março de 2010

Tancredo Neves não foi nenhum santo

Um desavisado que vê a propaganda na TV sobre o centenário de nascimento do “corajoso, democrático e libertário” Tancredo Neves deve pensar que ele está agora sentado à direita de Deus pai, todo poderoso, cantando “Coração de Estudante” de Milton Nascimento.

Pelo que eu sei, nos momentos mais dramáticos de nossa história recente, Tancredo usou o argumento da “conciliação” para barrar qualquer processo político originário da luta popular.

Em 1961, na renúncia de Jânio Quadros, Tancredo se prestou ao papel de ser um primeiro ministro tampão com discurso de apaziguar os “ânimos políticos nacionais”, na verdade uma saída encontrada pelos setores conservadores para retirar poderes do presidente João Gulart. O parlamentarismo foi abolido logo em seguida do país, quando em plebiscito a população deu um sonoro não a estratégia golpista de esvaziar a presidência da república.


Durante o regime militar, Tancredo foi um parlamentar da “oposição”, mas nunca foi cassado ou mesmo teve o mandato ameaçado pelo regime. Pelo contrário, foi eleito deputado federal em 1966, 1970 e 1974, senador em 1978 e governador de Minas em 1982, graças a sua política de conciliação com a ditadura. Perdeu o cargo somente em 1968, quando todo o congresso nacional foi dissolvido, inclusive os parlamentares apoiadores do regime.

Já nas diretas, usou o discurso de “não adianta empurrar, que eu não vou” para transformar a mobilização popular em saída por cima da ditadura. Aliou-se com setores do próprio regime (Sarney, seu vice, era o símbolo), para assegurar votos no Colégio Eleitoral e chegar presidência, fato não consumado pela sua morte antes da posse.

Agora, 25 anos depois de sua morte e 100 anos de seu nascimento há quem o idolatre como um herói nacional.
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

AF Sturt Silva disse...

Na minha região fizeram um grande sensacionalismo.

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