Mas, qual a origem da data? Classicamente, divulgou-se que em 1857 uma greve de tecelãs em Nova York foi duramente reprimida. O patrão teria fechado as portas da fábrica com as operárias dentro e incendiado o prédio, matando as 129 manifestantes. Diz-se a ainda que estas operárias fabricavam um tecido lilás, que passou a ser a cor do feminismo mundial.
A história guarda certa semelhança com o massacre de Chicago, que deu origem ao Dia do Trabalho. Mas, apesar das duras repressões contra o movimento operário no período, pesquisas documentais jamais encontraram referência ao tal massacre de Nova York.
A pesquisadora Naumi Vasconcelos desenvolveu nos anos noventa uma outra tese para a data.
Durante a 2ª Conferência da Mulher Socialista, a dirigente do Partido Socialdemocrata Alemão, Clara Zetkin, teria proposto um Dia Internacional de Luta das Mulheres, que àquela altura ainda não tinha direito ao voto na maioria dos países europeus. Sabe-se que posteriormente, a II Internacional Socialista que na época ainda reunia nomes como Vladimir Lênin e Rosa Luxemburgo, teria confirmado a necessidade da data, mas sem definir um dia. Assim, cada país tinha seu dia que se voltava para greves, manifestações e toda forma de luta que chamasse atenção para as condições de trabalho das mulheres e a discriminação social.
A pesquisa revelou ainda que a origem do 8 de março é uma greve de tecelãs e costureiras que explodiu em 1917, em Petrogrado, na Rússia e não em 1857 nos Estados Unidos. Nesse dia, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, saíram às ruas em manifestação por pão e paz e declararam-se em greve. A Rússia encontrava-se arrasada, pois àquela altura estava envolvida na I Guerra Mundial. A manifestação foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro (março nos calendários ocidentais).
Em “História da Revolução Russa”, Leon Trotsky cita que a greve foi o estopim da primeira Revolução Russa de 1917 e que pegou inclusive os bolcheviques de surpresa:
“Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução.”
O processo revolucionário de fevereiro resultou na queda do czarismo e na instalação de uma república parlamentar que duraria só até outubro, quando ocorre a Revolução Socialista Russa.
A Conferência das Mulheres Comunistas, realizada em Moscou, em 1921, adota o dia 8 de Março como data unificada do Dia Internacional da Mulher, para celebrar a greve das costureiras de 1917. A partir daí, a data vai se propagando mundo afora.
A simbologia da cor lilás seria um fenômeno mais recente, do movimento feminista dos anos sessenta e setenta e significa a mistura do azul (masculino) com o rosa (feminino), numa supressão simbólica do estereotipo para cada gênero.
Existem dúvidas do porquê da divulgação da primeira versão por longos anos. A assimilação da data pelo capital pode ser um dos motivos do afastamento dos ideais socialistas. Apesar disto, a mudança histórica não torna o 8 de março menos importante e hoje milhões de mulheres e homens estão nas ruas para lembrar a data e colocando a necessidade de superação da opressão.