terça-feira, 10 de março de 2009

MST ijvert al vijfentwintig jaar voor landhervorming in Brazilë


Calma, não é erro de postagem! No sítio da ‘Mídia Independente’ da Bélgica encontrei essa entrevista de João Pedro Stédile durante o Fórum Social Mundial deste ano em Belém. Como o texto estava em neerlandês (conhecido no Brasil como flamengo), deu certo trabalho fazer a tradução com o real significado em português. Apesar de discordar de algumas avaliações conjunturais de Stédile, chamo atenção na entrevista para o comentário sobre a “Reforma Agrária” de Santarém e posição vacilante diante do governo Lula. Vale a pena à leitura que segue na íntegra:

A vinte e cinco anos o MST luta pela reforma agrária no Brasil

Belém – As áreas rurais brasileiras possuem 4,5 milhões de famíias sem terra. Elas são a base potencial do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o movimento camponês que luta pela reforma agrária a vinte e cinco anos. João Pedro Stédile fala sobre o modelo agrícola dominante, a colonização da floresta e do impacto da crise.

Por que o MST tanto critica a agricultura em larga escala no Brasil?
STEDILE: O agronegócio é uma forma de colonialismo com cara moderna. Este modelo baseia-se em extensas monoculturas, mecanização da agricultura e do uso de pesticidas químicos. Com o tempo, este modelo de agricultura torna-se insustentável, porque quebra o equilíbrio natural e expulsa as pessoas do campo. O agronegócio não está interessado em aumentar a produção de alimentos para consumo local, tudo gira em torno do lucro.

O MST defende que a terra devar ir para os agricultores sem terra, cultivando-a em pequenas explorações familiares. De acordo com o presidente Lula, o Brasil é grande o suficiente para os dois modelos. STEDILE: Não é porque o Brasil é suficientemente grande que se pode destruir o meio ambiente e adotar um modelo que trás tantos danos sociais. Os pesticidas e herbicidas para culturas transgênicas são substâncias tóxicas para o solo, contaminam os rios e a cadeia alimentar. O MST está procurando a melhor forma de produzir alimentos saudáveis, sem destruir o meio ambiente. Lentamente, a população comprende os impactos negativos do modelo de agricultura industrial.

A crise financeira afetará o modelo do agronegócio?
STEDILE: Esta forma de agricultura é totalmente dependente da indústria de transformação. Insumos agrícolas, sementes transgênicas, fertilizantes e pesticidas são todos externos. Os grandes fazendeiros (grandes latifundiários), devem contrair empréstimos de bancos para comprar esses produtos. A crise de crédito reduz o fluxo e afeta de fato o modelo.

Além disso, a exportação agrícola brasileira se baseia neste modelo. STEDILE: Dois anos atrás, Lula concluiu um acordo com Bush sobre a exportação de etanol como substituto da gasolina. No Brasil, a cana-de-açúcar triplicou em área, de 4 milhões de hectares para 12 milhões de hectares. Havia planos para construir 129 refinarias de etanol e 1000 km de vias para o transporte do etanol do interior para os portos marítimos. A crise imporá ligeiros atrasos, mas isso não significa que esse processo será paralisado.

Que lições devemos tirar da crise econômica?
STEDILE: A crise é a prova que o capitalismo e o livre mercado não funcionam. A crise demoralizou aqueles que sempre disseram que o modelo neoliberal é o melhor. Grandes empresas anunciam perdas de milhares de milhões e colocam os seus trabalhadores na rua para compensar o enorme prejuízo. O governo injeta grandes quantias para os bancos e grandes empresas para tentar salvar esses grupos. Digo novamente: o que é bom nesse modelo? Os únicos que se beneficiam são as multinacionais e banqueiros, e os ricos fazendeiros, apartir deles.

Com a crise, o governo terá dinheiro para implementar a reforma agrária?
STEDILE: Se as exportações vão diminuir, o preço da terra realmente cai. Isso pode beneficiar a conquista da terra.

Quais deveriam ser as bases da agricultura para o MST?
STEDILE: A Soberania Alimentar deve ser central. Isto significa que cada comunidade no mundo tem o direito e as condições para produzir a sua própria comida. Ao longo da história da humanidade sempre foram comunidades que produziram seu próprio alimento até a "revolução verde" em todo o mundo e nos últimos 60 anos na China.

Eles dizem que a revolução verde foi necessária para acabar com a fome no mundo. STEDILE: Trata-se de uma progaganda mentirosa. Nos anos 60 havia cerca de 80 milhões de pessoas com fome no planeta. Quatro décadas depois, esse número subiu para 880 milhões. Mas isso não é tudo.No passado a fome foi o resultado da falta de colheitas devido às condições climáticas, mas hoje a fome é um problema estrutural. 75 países não podem alimentar as suas populações de forma adequada porque a produção e a distribuição de alimentos está inteiramente nas mãos das multinacionais. Produzem para si mesmas.

O MST tem contribuído no governo do Presidente Lula. Mas agora estes laços estão sendo quebrados. Por quê? STEDILE: Não estamos quebrando laços porque não havia vínculo algum. O MST não é favor de Lula, nem contra. O MST é autônomo. Defendemos os interesses de parte da pobre população brasileira. Se no Brasil Lula cria medidas que os beneficiam, congratulamo-nos com isso, mas quando atende somente os interesses dos capitalistas, fazemos críticas. Se ele agora disponibiliza enorme capital com dinheiro público para bancos e empresas multinacionais, em dificuldades financeiras, fazemos barulho sobre isso. Os movimentos sociais devem ser sempre independentes dos governos. No entanto, dada a realidade brasileira, temos o Lula porque o resto é muito pior.

O Presidente Lula afirma que reforma agrária está em execução. Principalmente aqui na Amazônia haveria mais de 50.000 famílias assentadas. STEDILE: Em nome da reforma agrária, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) estimula projetos de colonização na Floresta Amazônica. Famílias sem terra vieram para cá, receber 100 hectares de floresta tropical intocada. Mas o que acontece na prática? Madeireiros compram a madeira e as famílias abandonam a terra mais uma vez, porque não podem sobreviver, porque não há eletricidade, água, estradas, escolas ou centros de saúde.Estes projetos do Incra legalizaram o desmatamento da Floresta Amazônica.

Mas se essa reforma agrária não funciona porque o Incra insiste em fazê-la? STEDILE: Porque a floresta amazônica é muito grande, torna-se mais fácil esconder essa informação para o resto do país. Além de você não poder sequer falar em reforma agrária, pois essas terras públicas estão em mãos privadas. Este projeto objetiva manter a terra nas mãos dos capitalistas que apoiam Lula, gerando grandes estatísticas.Os números enganam. Na região de Santarém (no coração da Floresta Amazônica), 57.000 famílias receberam terras nos últimos seis anos. Porém, o mesmo período, 52.000 famílias receberam terras nas três principais regiões agrícolas do Brasil.Então, em uma região isolada da Amazônia foi distribuído mais terra do que nas três grandes regiões agrícolas.

Na Europa, as ONGs tem feito muito barulho contra a soja brasileira enviada a partir do porto de Santarém. Os consumidores do Norte se sentem culpados? STEDILE: O problema não é com o consumidor, mas as multinacionais que querem controlar toda a cadeia alimentar. Para eles, a soja é a perfeição. Com extensa rede de produção e transformação gera-se muitos lucros. Com isso, galinhas, porcos e vacas são engordados com soja que recebe antibióticos, para não ficarem doentes com tantos hormônios de crescimento rápido. O consumidor não é o culpado de tais práticas, mas a vítima, pois os lucros são feitos à custa da sua saúde. Essa é mais uma razão para insistirmos na soberania alimentar.

Além de soja e cana-de-açúcar, o MST também se preocupa com a rápida expansão do eucalipto no Brasil. Por quê? STEDILE: Os investidores estrangeiros veem muito futuro para a produção celulose de eucalipto (matéria-prima para papel) e carvão ("combustível verde para a energia do futuro”). Países escandinavos querem que suas fábricas poluentes de papel se movam para o sul. No Brasil, Argentina e Uruguai crescem cada vez mais as áreas plantadas com eucalipto, pois possuem energia solar e água abundantes. Com a monocultura do eucalipto temos mais problemas que a cana-de-açúcar ou a soja, uma vez que esgota o solo rapidamente, e sugam toda a água do solo para cima. Comunidades que vivem nas proximidades das plantações de eucalipto já dependem de caminhões de água da cidade, pois as suas fontes estão secas. Felizmente, a opinião pública começa a se virar contra a invasão do eucalipto.

Em janeiro se comemorou o 25º aniversário do MST. Quais são as mais importantes conquistas do movimento ao longo deste tempo? STEDILE: A mais importante vitória, o restabelecimento da dignidade dos camponeses sem terra brasileiros. O trabalhador rural está agora ciente de sua situação e conhecem os seus direitos. Em 25 anos, o MST conquistou entre 14 a 15 milhões de hectares terras. Cerca de 500.000 famílias já têm a sua própria terra. Mas no Brasil ainda existem 4,5 milhões de famílias sem terra. Elas são a base potencial para nossa luta. Atualmente existem cerca de 100.000 famílias na linha da frente do MST.Eles estão em uma ocupação ou em acampamentos ao longo das estradas para tornar a luta visível. O MST criou 2000 escolas. Ninguém nos nossos acampamentos são analfabetos. Toda a pessoa tem comida no seu prato. Estas são todas as conquistas sociais. Mas tivemos de nos sacrificar muito. Nesses 25 anos foram 40 líderes do MST assassinados. Muitos foram colocados atrás das grades e o número de vezes que estivemos perante um tribunal, já não dar para contar.

A versão da entrevista em neerlandês encontra-se em
http://www.indymedia.be/nl/node/31701
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Arnaldo José disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arnaldo José disse...

Poderia ter dado mais umas alfinetadas, digo estiletadas, no traidor aliado do eua, mas no todo não foi das piores.