Publico abaixo e na íntegra a carta da militante Elineuza Alves da Silva, de Santarém, Pará na qual ela anuncia e explica a sua saída do PSOL e a entrada no PSTU.
CARTA ABERTA AO PSOL/SANTARÉM - PARÁ
Elineuza Alves da Silva
Quando entrei no PSOL (Partido Socialismo Liberdade), estava convicta de que era um partido voltado para a classe trabalhadora. Hoje não tenho mais esta convicção. Desde 2008, quando Márcio Pinto foi candidato à prefeito de Santarém, tinha clareza que estava no partido certo.
Todavia, já no ano de 2010, me afastei da corrente interna MES/PSOL (Movimento Esquerda Socialista) durante a candidatura de Márcio Pinto, agora a deputado estadual. Durante a campanha, fui convidada para uma reunião no comitê deste companheiro. Estavam lá as militantes: eu (Elineuza), Joana, Nira, Nice, Vanessa, Érina (seis mulheres) e o candidato Márcio Pinto.
A pauta da reunião envolvia questões financeiras. Foi proposto, por estarmos desempregadas, que o partido pagasse os militantes para fazer a campanha eleitoral. Sendo que dessas pessoas que iriam ser pagas, três eram do partido: eu, Nira e Joana, as outras duas não eram naquele momento: Vanessa e Nice. Não tenho informação se elas se filiaram depois. Esta proposta, segundo foi informado, partiu da Direção do Partido em Santarém.
Pediram para falarmos o que achávamos da proposta. Todas concordaram, exceto eu (Elineuza Silva), pois achava um absurdo um partido que diz ser diferenciado do PT, PSDB, DEM entre outros, fazer aquele tipo de proposta aos militantes. Eu cheguei a chorar, mas não foi de emoção, foi de raiva! Eu não concordava com aquele absurdo que eles estavam fazendo! Fico me perguntando até hoje, de onde eles conseguiram tanto dinheiro? Pois sobrava dinheiro até para pagar militante! Pra mim, os militantes devem sustentar o partido e não o contrário.
Lembro-me que na última campanha para prefeito em 2008, eu também não estava trabalhando, mas nem por isso deixei de militar, e foi a campanha em que eu mais militei. Saia de casa de manhã e voltava só à noite, minha irmã chegou até perguntar se eu ainda morava na casa dela. Mas nem por isso reclamei de dinheiro, pois tinha consciência do que estava fazendo, até porque, não estava pedindo melhorias só para mim, mas sim para a sociedade em geral, em particular para os trabalhadores e isso era uma coisa que me deixava e deixa muito feliz.
Depois que aconteceu esse fato, eu me afastei completamente da corrente. Fiquei independente no Partido. Também não me chamaram mais para participar de reuniões.
Neste período, chegaram a afirmar que eu estava na corrente CST/PSOL (Corrente Socialista dos Trabalhadores), mas se enganaram. Não que eu não concorde com a política desta corrente, que em minha opinião, é sem dúvida bem melhor que a política do MES. Faço este balanço pois participei de duas reuniões da CST e uma formação, e foram muito produtivas. Coisa semelhante, eu nunca tive no MES!
Só não fui para a corrente CST de fato, porque passei a não concordar com essas correntes que existem dentro do PSOL, pois elas não se juntam na construção do partido e disputam entre si a todo momento, quebrando o próprio partido.
Desde a minha saída da corrente, a experiência com o MES, foi só de decepção. Na eleição para presidente no ano de 2010, esta corrente preferiu lançar um candidato próprio (o companheiro Gledson Pontes) ao invés de apoiar o companheiro, Messias Flexa, que é da CST, passando os dois a disputarem o cargo de deputado federal.
Outro fato absurdo, esse ano, aconteceu lá em Brasília, quando eu e a Edilane Cabral estávamos na casa do companheiro “Índio”, como é mais conhecido, militante do MES no DF. A Edilane vestiu uma camisa da Conlutas e quando Índio viu, ficou uma fera, pois descobriu que a Edilane é da corrente CST, que aquela altura construía esta central. Não só a Conlutas foi desqualificada, como a própria CST. Isto não é forma de tratar militantes de um mesmo partido!
Se cada corrente tem uma opinião diferenciada, por que cada uma não funda um partido? Quando os companheiros vão para as ruas fazer campanha, não falam que existem correntes no PSOL, sequer a população sabe o que realmente é o PSOL! Quanto mais suas correntes. Contudo, estas atuam concorrendo uma com as outras. Os companheiros do PSOL falam em nome do Partido, mas a política é de cada corrente, e em minha opinião vocês têm que mostrar isso para a população. Fica até difícil alguém que não é de nenhuma corrente militar no PSOL, até porque, se não pertencer a uma corrente, vai ficar como eu fiquei, sem participar de reuniões, congressos, plenárias, formações, entre outras atividades militantes.
Estes fatos relatados até poderiam ficar na crítica interna, porém, torno pública esta carta, pois quero que os companheiros retirem meu nome da nota pública a favor da criação Estado do Tapajós, pois não permiti que vocês o colocassem lá. Não autorizei em momento algum adicionar meu nome nesta nota, até porque sou contra a divisão do Estado do Pará. Expresso isso publicamente, uma vez que não autorizei ao MES/PSOL fazê-lo publicamente. Ninguém me ligou para pedir minha assinatura ou minha autorização para colocar meu nome em tal nota. Também não assinei nenhum papel. Tenho plenos direitos de exigir uma retratação pública sobre essa questão.
Inclusive, os companheiros do MES fizeram uma coisa muito grave: não consultar a Direção da CST, e os militantes em geral do PSOL Santarém, inclusive os que não são de nenhuma corrente, que iriam soltar uma nota a favor da criação do Estado do Tapajós conforme está na “Carta Aberta de membros do PSOL à população do Oeste do Pará” divulgada no Blog do Jeso Carneiro. Até porque, se são democráticos e coerentes mesmo, deveriam respeitar a CST que é contra a divisão do Pará. Conforme pode ser visto no mesmo blog, uma nota que o companheiro Messias Flexa publicou protestando a unilateralidade do MES/PSOL e a posição contrária da CST.
Peço minha desfiliação do PSOL, por todos esses motivos citados nessa carta, espero que vocês sejam breves, pois vou me filiar em outro partido. Os companheiros já sabem muito bem, estou no PSTU!
Quero ainda repudiar o machismo e a discriminação da professora Isabel Sales, que é militante do MES. No dia 05 de setembro deste ano, no Grito dos Excluídos, ao ser informada que agora eu era militante do PSTU, perguntou: “agora tu és do PSTU”? Respondi: “sim, agora sou do PSTU, um partido Revolucionário e preocupado com a classe trabalhadora. Não igual ao PSOL que é oportunista”! Então Isabel Sales responde: “não vai namorar com o Lira Maia, pra ti não ir pro PSDB”. Trata-se de uma postura de discriminação, preconceito e machismo, pois, sou companheira de um militante do PSTU. Contém uma lógica de diminuição, pois pressupõe que não possuo nenhuma compreensão e/ou discernimento político, de gênero e classe.
Deixo claro que quando entrei no PSOL, eu ainda não namorava com Márcio Pinto. Comecei a namorar com ele depois que já estava militando no MES/PSOL. Minha saída do PSOL nada tem haver com relacionamentos amorosos e qualquer associação, a isto é puro machismo. Lembrando, ainda: Lira Maia e Alexandre Von, na eleição do ano de 2008, se reuniram com a Direção do MES/PSOL e o candidato Márcio Pinto, especulando a possibilidade deste vir a ser vice. Quem flertou com Lira Maia (do DEM e não do PSDB), “quase chegou a namorar”, foi o MES, não eu!
Porque vim ao PSTU? Por sua política classista, socialista, internacionalista, de gênero, formação, militância, democracia interna, centralismo democrático, crescimento político e cultural pessoal. E ainda por sua metodologia e sistematicidade enquanto partido, sua coerência interna (critérios de militância: reuniões semanais, cotizações individuais, que garante a independência política e financeira do partido, leitura e propaganda do jornal Opinião Socialista) além de suas publicações nacionais e internacionais como Correio Internacional, da Revista Marxismo Vivo, Revista da Juventude do PSTU, entre outras publicações da Editora do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado.
Não somos uma organização perfeita, temos falhas, erros, como qualquer organização. Contudo, funcionamos com base em princípios que delineiam a nossa ação. Acima de tudo, vim ao PSTU por este partido expressar em sua política, no cotidiano, sua militância com respeito e coerência interna: por combater a opressão, o machismo, a homofobia, o racismo; se posicionar nitidamente, contra a burguesia, o capitalismo e a exploração dos trabalhadores. Não vacilar diante dos inimigos políticos de nossa classe. Além, por ser honesto com a militância e o movimento: não esconder o que somos das/nas organizações e movimentos sociais dos trabalhadores, coletivos organizados no e/ou pelo PSTU. Assumimos e temos orgulho do que somos, pensamos, defendemos e ousamos, em cada lugar: construirmos a perspectiva da Sociedade de transição ao Socialismo, a Revolução Socialista Mundial.