quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

África: Os negócios brasileiros na Líbia

O leitor Gustavo Lapido Loureiro, a partir da leitura da postagem Lula e Khaddafi: "irmão" e "amigo" traduziu a notícia do portal AlJazeera que revela as relações abertas entre as empresas brasileiras, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, e a ditadura líbia com a intervenção direta de Lula. Coanfira abaixo a matéria traduzida. 

Grato pela tradução companheiro.

Nos reluzentes escritórios corporativos de umas poucas companhias gigantes brasileiras, seria uma boa aposta dizer que alguns executivos devem estar suando neste momento enquanto acompanham o desenrolar dos últimos acontecimentos na Líbia.

As maiores e mais influentes companhias de engenharia e construção do Brasil encontram-se também à frente de alguns dos maiores projetos de construção no país norte-africano que agora está sendo arrastado por uma revolta popular sangrenta contra os 40 anos de mandato de Muammar Khaddafi.

Agora, muitas destas empresas brasileiras estão se perguntando se devem tirar os seus trabalhadores daquele país, e pensando nas perdas potenciais de bilhões de dólares que estão em jogo.

Em 2003, quando as sanções impostas pelas Nações Unidas contra a Líbia foram suspensas, também desapareceu o principal obstáculo que impedia as empresas brasileiras de fazerem negócios por lá. Com isso, abriu-se a oportunidade para que multinacionais explorassem um mercado virgem e rico, especialmente na reconstrução de um país desintegrado. Desde 2003, a Líbia investiu, segundo algumas fontes, mais de 120 bilhões de dólares em projetos de infra-estrutura, provendo um terreno fértil para as empreiteiras brasileiras.

Dos aproximadamente 600 brasileiros atualmente residentes na Líbia, de acordo com o ministro das relações exteriores, é seguro afirmar que quase todos trabalham para uma das três empresas brasileiras: Odebrecht, Andrade Gutierrez ou Queiroz Galvão.

A Odebrecht, com experiência comprovada mundialmente em construir qualquer coisa, de barragens a aeroportos, atualmente emprega 5.000 pessoas na Líbia, sendo 200 brasileiros. A Odebrecht foi uma das primeiras empresas brasileiras a estabelecer contratos na Líbia, em 2007, de cerca de 1,4 bilhões de dólares, em valores da época. A empresa buscava, hoje, efetivar contratos para a construção de terminais no aeroporto internacional de Trípoli e para a construção de um anel viário.

Na segunda-feira, a Odebrecht disse que iria emitir ordens de evacuação para os cerca de 5.000 funcionários que ela tem na Líbia.

Mas há coisa de uns dois anos atrás, outras empreiteiras peso-pesado brasileiras seguiram o caminho aberto pela Odebrecht, e correram para a Líbia. São elas a Queiroz Galvão e a Andrade Gutierrez. A Queiroz Galvão, em certo momento, estava com 6 contratos simultâneos de construção, no valor de centenas de milhões de dólares, de acordo com a empresa. Como a Odebrecht, ela também tem milhares de funcionários e cerca de 200 brasileiros. E eles também têm participado do auxílio à evacuação de funcionários.

A Andrade Gutierrez, de acordo com alguns relatórios, planejava instalar uma subsidiária na Líbia. Nada se sabe do andamento desse projeto, porque não foi possível fazer contato com nenhum representante da empresa.

E a Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, tem operações de exploração na Líbia desde 2005, de acordo com a empresa. Ela tem participação de 70% na exploração de um bloco operado em forma de consórcio. Na segunda-feira, o presidente da empresa Sérgio Gabrielli disse que apenas 10 brasileiros trabalham para a Petrobrás na Líbia, que não houve parada na operação, e não está previsto nenhum plano de evacuação. 

A diplomacia leva a negócios
Por anos, desde a suspensão das sanções internacionais à Líbia, o Brasil tem construído, discretamente, laços diplomáticos e econômicos com a Líbia. O ponto culminante desse processo deu-se em 2009, quando o então presidente Luiz Inacio Lula da Silva visitou a Líbia e carregou com ele 90 representantes de diferentes áreas comerciais.

As freqüentes condenações às potências econômicas neoliberais e clamores pelo aumento do comércio e investimento sul-sul feitas por Da Silva foram mensagens que Khaddafi recebeu calorosamente. Na viagem de 2009, Lula chamou Khaddafi de “irmão” e “amigo” e, em troca, o líder líbio deu as boas-vindas, de braços abertos, aos empresários brasileiros. (Da Silva não foi o único líder mundial a cortejar Khaddafi nessa época).

E valeu a pena para ambas as partes: entre 2003 e 2009, as exportações brasileiras para a Líbia aumentaram em 289%, enquanto as importações brasileiras da Líbia cresceram 3.111%, de acordo com uma reportagem do ano passado no jornal O Estado de São Paulo.

A nova presidente do Brasil, Dilma Roussef, tem sido discreta em assuntos internacionais nos seus dois primeiros meses de cargo. Mas o Ministro brasileiro das Relações Exteriores emitiu uma declaração na última sexta-feira pedindo ao governo líbio para “proteger o direito à liberdade de expressão dos manifestantes” e evitar o uso da violência. (O Brasil emitiu declarações similares para o Egito e a Tunísia).

Mas a violência e a incerteza permanecem na Líbia, e, até este domingo, o governo brasileiro tinha um avião à espera da aprovação das autoridades líbias para evacuar os seus cidadãos, de acordo com o seu embaixador.

Ao mesmo tempo, os executivos brasileiros, que correram para a Líbia há até pouco tempo atrás, têm agora que parar para aguardar o desenrolar dos acontecimentos. E provavelmente dar-se-ão conta de que não foi um revés econômico ou um modelo de negócio mau que poderá ter interrompido os seus planos mais bem intencionados, mas, ao invés, uma revolução popular.

Comentários
0 Comentários

0 comentários: