O atual quadro de conflitos que se acirra em Anapu, oeste do Pará, teve inicialmente a influência direta da ex-governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT). É o que revela um documento assinado por ela em 15 de outubro de 2009.
Em 2009, mais de 300 trabalhadores rurais se mobilizaram para coibir a extração ilegal de madeira em vários assentamentos da região. Naquele momento, servidores do Ibama, a partir de denuncia da CPT, apreenderam vários caminhões carregados de madeira extraídas de assentamentos. As cargas pertenceriam ao atual vice-prefeito de Anapu, o madeireiro Délio Fernandes (Relembre esta notícia aqui no blog: Luta: trabalhadores de Anapu (PA) se mobilizam, resistem e denuciam extração ilegal de madeira).
Neste momento, a então governadora Ana Júlia Carepa interviu diretamente no processo, relata Irmã Jane. A interferência de Ana Júlia está comprovada no Ofício do Gabinete da Governadora n° 622/09-GG, documento assinado e enviado para o então Presidente do Ibama, Roberto Messias Franco.
Neste ofício, o qual tivemos acesso, a governadora diz que aquele instrumento estava sendo encaminhado como um pleito da “Associação dos Municípios do Consórcio Belo Monte”, que a esta altura já era presidida pelo prefeito de Anapu, Chiquinho do PT. No documento, está escrito que a Chefia do posto do Ibama no município de Altamira agiria “na contra-mão das políticas públicas que o Governo tentar implantar na Região. É contra os assentamentos do INCRA, contra o asfaltamento da Rodovia Transamazonica e contra a construção da Hidrovia [sic] de Belo Monte.”
O texto do documento diz que o responsável pelo Ibama em Altamira tinha uma atuação de “quanto pior, melhor” o que impediria a aplicação de políticas públicas e “que não tem sentido depender de apenas uma pessoa”.
Logo após o ofício da governadora, o gerente do Ibama, responsável pela fiscalização ambiental na região, Roberto Scarpari, foi transferido para Marabá. O posto do Ibama em Altamira, cidade na qual o governo pretende construir a mega-hidrelétrica de Belo Monte e que fazia as fiscalizações em Anapu, foi fechado. A fiscalização ambiental em Anapu deixou de ser feita pelo Ibama em Altamira, que fica a 135 quilômetros de distância, para ser feita pela sede em Belém, a mais de 700 quilômetros.
Novas ações de fiscalização não surtiram muito efeito, pois conforme foi relatado na audiência pública, antes mesmo dos fiscais do Ibama chegarem ao município, os caminhões madeireiros suspendiam a extração de madeira, até o fim da operação ambiental.
Já a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, órgão subordinado ao governo do Estado do Pará, sequer chegou a realizar qualquer operação de fiscalização ambiental no município, apesar dos constantes apelos durante todo ano de 2010, ano eleitoral.