segunda-feira, 16 de maio de 2011
Sem dívidas, Projeto Jari quer expansão
Onze anos depois de assumir o polêmico Projeto Jari, na floresta amazônica, o empresário Sérgio Amoroso, do grupo Orsa, comemora a liquidação da dívida do empreendimento, que originalmente chegava a US$ 415 milhões. Hoje, o Jari, tocado pelo americano Daniel Ludwig na década de 60, produz 350 mil toneladas por ano de celulose branqueada de eucalipto e ocupa área de 1,365 milhão de hectares.
Os planos, agora, são de expansão do projeto, com a instalação de uma linha com capacidade para produção de 1,5 milhão de toneladas anuais de fibra. Conforme Amoroso, o Jari está arrumando a casa para receber um sócio estratégico ou captar recursos no mercado com uma oferta pública de ações.
Encravado na Floresta Amazônica, o Projeto Jari, que produz atualmente 350 mil toneladas por ano de celulose branqueada de eucalipto e ocupa área de 1,365 milhão de hectares, se prepara para ser a "noiva" da vez no setor. Palavras do próprio dono, o empresário Sérgio Amoroso, responsável por zerar as dívidas do empreendimento que foi idealizado pelo americano Daniel Ludwig na década de 60. Liquidado o compromisso, que originalmente chegava a US$ 415 milhões, o momento é de traçar a rota para um novo salto - com a instalação de uma linha com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas anuais de fibra -, em voo que não será solo.
Conforme Amoroso, a Jari está arrumando a casa para receber um sócio estratégico ou captar recursos no mercado, via oferta pública de ações, e então sacramentar o projeto desenhado há mais de 50 anos. "Já fomos procurados. Mas ainda não é a hora", ressalta o empresário, revelando apenas que, dentre os potenciais interessados, estariam dois grupos chineses e um brasileiro. Reduzir custos de produção, modernizar as instalações e ampliar a capacidade fabril do empreendimento, comprado pelo grupo Orsa em 2000, virão antes da capitalização e construção da nova fábrica, o que só deve ocorrer a partir de 2015.
Num primeiro passo rumo à empresa que se apresentará a potenciais investidores, os negócios de embalagens e papelão ondulado do grupo foram incorporados aos de celulose, o que deu origem à Jari Celulose, Papel e Embalagens. Em 2010, do faturamento de R$ 1,5 bilhão do grupo - um ano antes, as receitas foram de R$ 1,3 bilhão -, R$ 420 milhões vieram da divisão de celulose e R$ 1,1 bilhão, de papel e embalagem. O grupo compreende ainda a Orsa Florestal, responsável pelo manejo de 800 mil hectares de florestas na Amazônia; a recém-adquirida Ouro Verde, que beneficia produtos não madeireiros, especialmente castanha-do-pará, em Alta Floresta (MT) e Vale do Jari (PA); e a Fundação Orsa, que tem papel estratégico para os planos do empresário na Amazônia, ao assegurar o desenvolvimento sustentável da região e de comunidades que dependem dos recursos da floresta.
Madeira e alto custo de produção são gargalos que impedem o aumento da capacidade da Jari no curtíssimo prazo
Em paralelo, o grupo finalmente quitou as dívidas da Jari, ao saldar a última parcela, de US$ 40 milhões, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com o Banco do Brasil. Conforme Amoroso, a fórmula de pagamento acertada com os credores tinha duas variáveis: custo de produção e preço da celulose. Cumpridas todas as cláusulas do contrato, ao fim de 10 anos, a dívida seria perdoada - exceto pela garantia mínima de pagamento de US$ 112 milhões exigida pelo banco de fomento. Cerca de US$ 80 milhões desse montante foram pagos por meio da fórmula ao longo dos 10 últimos anos. A diferença saiu do bolso do único acionista.
Toda a celulose produzida na unidade fabril, que fica às margens do rio Jari, divisa dos Estados do Pará e Amapá, é exportada e a fábrica, que veio de navio desde o Japão, só não opera à plena capacidade porque falta madeira. Conforme Amoroso, as florestas que permitirão aumento na produção já estão plantadas e, em dois anos, estarão prontas para corte. Para alcançar as 420 mil toneladas que podem ser produzidas na fábrica atual, o grupo também vai investir US$ 200 milhões nos próximos dois anos. Ainda neste mês, encaminhará ao BNDES o pedido de financiamento. "Desse valor, US$ 150 milhões devem ser direcionados para redução de custo."
Atualmente, o custo caixa de produção da celulose procedente da Jari está em US$ 530 a tonelada, bem acima da média das demais produtoras nacionais. Na brasileira Fibria, referência mundial da indústria, o mesmo custo, no primeiro trimestre, foi de R$ 446 por tonelada. "Temos de reduzir nosso custo em pelo menos US$ 150 por tonelada para ir para a briga", avalia Amoroso. "No fim do processo, o objetivo é estar em US$ 50 por tonelada acima de Fibria e Suzano (Papel e Celulose)". Um dos fatores favoráveis ao cumprimento da meta é a distância relativamente curta entre florestas e fábrica, o que reduz de forma significativa gastos com movimentação da madeira. Hoje, o raio médio da Jari está em 40 quilômetros, um dos menores registrados pela indústria. Com a implantação da segunda fábrica, contudo, esse raio deverá dobrar, conforme estimativa de Amoroso.
A nova linha fabril, que já conta com área certa na região, incluindo os hectares que serão destinados ao plantio de novas florestas, também deve alterar o mapa das vendas da Jari. Atualmente, 85% da celulose ali produzida é embarcada para clientes na Europa, 15% é destinado à Ásia e 5% fica na América Latina. "Com maior escala e o crescimento do consumo de celulose na China, a Ásia deverá conquistar fatia cada vez mais relevante nas vendas", diz o empresário.
Para garantir a continuidade do negócio - e a atratividade da Jari aos olhos de potenciais investidores -, o grupo Orsa tem dedicado especial atenção às comunidades que vivem na Floresta Amazônica e investido no bom relacionamento com organizações ambientais e de trabalhadores. Afinal, o complexo Jari compreende, além de fábrica e unidade de geração de energia, 70 quilômetros de ferrovias, porto, aeroporto e uma cidade planejada em plena Floresta Amazônica. "Isso já estava previsto no projeto de Ludwig", ressalta Amoroso. "Se não levarmos desenvolvimento à região e não oferecer condições de permanência das comunidades, não podemos continuar ali."
Um dos atestados de atuação responsável, diz o empresário, foi a conquista do certificado FSC (do inglês Forest Stewardship Council), de manejo sustentável de quase 800 mil hectares de florestas. Para gerir esses recursos, o grupo criou a Orsa Florestal, que em 2011 deve registrar a primeira geração de caixa positiva. Sob a estrutura da unidade florestal aparece a empresa Ouro Verde, recém-adquirida pelo grupo e voltada principalmente ao beneficiamento de castanha-do-pará. No ano passado, a Ouro Verde faturou R$ 3,5 milhões e a expectativa de Amoroso é a de que, em 10 anos, as receitas da controlada alcancem R$ 150 milhões.
Atualmente, a Jari Celulose emprega 3 mil trabalhadores diretos e indiretos. Com a instalação da segunda linha de celulose, a previsão é a de que outros 4 mil funcionários diretos e até 15 mil indiretos sejam integrados. Já na floresta, pesquisas indicam a presença de 98 comunidades diferentes.
Fonte: Valor Econômico
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