domingo, 15 de novembro de 2009

O que é vandalismo?

Em seu blog, o Greenpeace surpreendentemente chama o ato de manifestantes de incendiar balsas carregadas de madeira no rio Arapinuns, no Pará, de “vandalismo”.

Diz trecho da postagem Moradores incendeiam balsas com madeira no Pará :
“Greenpeace condena vandalismo na Gleba Nova Olinda, em Santarém, no oeste do estado


Manaus (AM), 12 de novembro de 2009 - Moradores da Gleba Nova Olinda atearam fogo, nesta semana, em duas balsas de madeira mantidas retidas há quase um mês na comunidade São Pedro, na região de Santarém, no oeste do Pará. As balsas, transportando cerca de 1,5 mil metros cúbicos de madeira, foram retidas durante o bloqueio do rio Arapiuns pelas comunidades, iniciado no dia 12 de outubro, como forma de chamar a atenção do governo do Pará para o caos fundiário e a intensa atividade de exploração de madeira na Gleba que, segundo relatos locais, é ilegal.

'Como organização pacifista, o Greenpeace desaprova este tipo de manifestação e está muito preocupado com o clima de violência que se instalou na região', disse Raquel de Carvalho, da campanha Amazônia.”

Acostumados a promover ações espetaculosas e com poucos militantes, o Greenpeace parece que errou na dose ao condenar o incêndio, criminalizando o movimento como não-pacífico. Talvez tal condenação parta de uma concepção pré-concebida de luta, com roteiros e personagens pré-estabelecidos. Ou mesmo ignore quem realmente são os violentos nesta história e a classe social de cada um. Há inclusive um poema de Brechet que é bem ilustrativo: "diz-se violento o rio que tudo arrasta. Mas não se diz que são violentas as margens que comprimem o rio?".


Aliás, muitas pessoas não envolvidas diretamente no conflito, compreenderam a ação como um ato de desespero ou de denúncia, mas não de vandalismo (Vê as postagens no blog do Jeso Carneiro: Resistência legítima; Uma defesa desesperada da floresta e Fogo em defesa da floresta.)

O mais curioso nisto tudo é que madeireiros e grileiros instalados na região denunciam a todo o momento, como estratégia para desmoralizar os movimentos sociais locais, que os mesmos seriam insuflados e financiados pelo Greenpeace, que desejaria a "internacionalização da Amazônia." É espantoso que a Ong use o mesmo termo tantas vezes usado contra ela mesma.

Mas, o que seria vandalismo? A origem da palavra diz muito. Há um bom artigo na página do Brasil de Fato chamado Os vândalos já estão aqui, da professora Silvia Beatriz Adoueque que vale a leitura tanto do Greenpeace como de outras pessoas que só olham para o rio e se esquecem de suas margens.

Comentários
4 Comentários

4 comentários:

Anônimo disse...

A ação no rio Arapiuns não significa nem vandalismo nem desespero. Vandalismo é aquele praticado por toda a atividade capitalista na região em particular e na amazônia em geral, seja a atividade madeireira, minerária ou grileiro-latifundiária; seja a atividade ilegal ou sob o manto da legalidade burguesa, pois ainda que seja legal serve apenas para endossar a pilhagem da riqueza nacional para atender as demandas de grandes empresas capitalistas em detrimeto do interesse do povo brasisleiro. As comunidades locais são um empecilho a esses grandes interesses e têm sido ameaçadas, coagidas, expulsas e fisicamente eliminadas por elites oligárquicas locais serviçais dos interesses de empresas e de governos estrangeiros e que não têm escrupulos em usar toda a forma de violência inclusive pistoleiros legais(polícias) ou clandestinos.
A reação violenta das comunidades e dos movimentos do campo embora tardia é necessária. Todas as ilusões se esvaem e agora percebem que seus velhos representantes atuam em defesa de seus inimigos históricos. Essas reações demonstram que a fase de desespero passou e que é hora da esperança, mas esta só pode existir dentro da luta, da luta de classes. É preciso mais do que nunca deixar patente que não é possível coexistir o roubo, a pilhagem, a exploração e a violência contra o povo com a esperança e o desejo de vida dos trabalhadores. Se a ação do capital é violenta é justo que a reação popular também o seja. Se for para queimar que seja a madeira roubada e não os barracos de palha. Se for para chorar que as lágrimas não sejam mais dos filhos e filhas de trabalhadores e trabalhadoras. A paz é uma necessidade, mas é algo pelo qual se deve lutar e até que seja definitivamente alcançada devemos nos preocupar com a paz entre os trabalhadores e com a guerra aos senhores pois "paz sem voz não é paz,é medo"!

Cândido Cunha disse...

Não acho que seja um ato desesperado. O que o texto diz é que muita gente achou que foi um ato desesperado, mas não condenou o movimento pelo ato. O que eu acho que tanto no caso do rio Arapiuns como no caso das laranjeiras em terras griladas, quem está praticando “vandalismo” não são os manifestantes. Não são formas de lutas cotidianas e expõe causas legítimas a execração pública por pessoas conservadoras e interessadas na criminalização desta luta e de outras até mais comportadas. Mas são protestos sim, até porque não é uma destruição gratuita: são madeiras pilhadas de territórios indígenas e produção de laranjas em terras griladas, as razões de cada episódio. E digo mais: são protestos legítimos pois põe em contradição o Estado, a sociedade, as entidades, etc. e suas opiniões diante de um caso prático e concreto. Compreendo como uma denúncia depois que outras formas foram tentadas. O que é estranho é o Greenpeace chamar isso de “vandalismo”.

J. J. Joségs disse...

Esses caras que atearam fogo são ilegítimos. Ilegitimos contribuintes do governo, ilegítimos em qualquer sistema de cadastro. Alguns não devem ter sequer CPF. Então por não serem legítimos contribuinte eles não tem direito de reinvindicar autorização para manejo destas áreas para eles. As áreas e toda sua riqueza vão para os legítimos.
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E lá, só lhes restaram a condição de legítimos ocupantes ribeirinhos e de legítimos herdeiros da `tradição e cultura´ (não dos docoumentos). Agora também são legítimos vandalos ateadores de fogo na madeira dos legítimos.
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O que é vandalismo? O que é legítimo?

Anônimo disse...

Eles não tem CPF não é? Eu vi logo. Se não estariam na RB do Incra de Santarém. Ah, mas sempre tem um jeitinho. É só digitar 000.000.000-00, 111.111.111-11, 222.222.222-22, etc.

E como diz Pedro Aquino num outro espisódio: põe em RB, paga o crédito e depois quem quiser ser índio vai ser!