Por Tatiana Merlino
Lucinete* aproxima-se de um
homem sentado em uma cadeira de plástico, que, acompanhado de uma jovem, toma
cerveja.
– Oi, tudo bem? Você não me
ligou... Por quê? – questiona ela.
Não é possível ouvir a
resposta.
“Combinamos de ele me ligar
amanhã ao meio-dia para a gente sair”, conta Lucinete ao voltar, sorrindo. O
homem aparenta ter entre 50 e 55 anos, e, embora esteja com uma moça ao seu
lado, a quem acaricia e beija, lança muitos olhares para o corpo de Lucinete. A
adolescente de 16 anos veste uma calça jeans justa, mini-blusa vermelha, também
colada ao corpo, batom vermelho e pintura forte nos olhos.
Como Lucinete, várias outras
meninas circulam pelo local, numa noite de sábado do mês de outubro. O figurino
é o mesmo: roupinhas justas, curtas, brilhantes, maquiagem no rosto, salto
alto, unhas pintadas, cabelo arrumado. A casa de baile de Bom Jesus das Selvas,
município localizado no oeste do Maranhão, é o ponto de encontro da cidade, a
balada onde jovens, e nem tão jovens, encontram-se para beber, dançar e
confraternizar. É ali que também ocorrem os encontros de meninas pobres da
cidade com os funcionários das empresas que chegaram a partir de 2010, entre
elas a Norberto Odebrecht. Na cidade, a construtora instalou um de seus
canteiros de obras para a duplicação de 605 dos 892 quilômetros da Estrada de
Ferro Carajás (EFC), concessionária da transnacional mineradora Vale (os
quilômetros restantes já foram duplicados e hoje servem de pátios de
cruzamento).
A duplicação faz parte de um
pacote de cerca de 7,8 bilhões de dólares até 2014 e atenderá o maior projeto
da história da empresa e também o maior da indústria de minério de ferro do
mundo: o S11D, que será implantado na Serra Sul de Carajás, em Canaã dos
Carajás, Pará.
Para atender à iniciativa, a
mineradora também construirá um ramal ferroviário de 100 quilômetros ligando a
mina de Canaã dos Carajás à EFC, em Parauapebas, e um quarto píer no Terminal
Marítimo de Ponta da Madeira, na capital São Luís, no litoral maranhense. O
projeto aumentará a capacidade de produção de minério dos atuais 100 milhões de
toneladas ao ano, em 2010 para 230 milhões, em 2015.
Tal aporte pode ser
explicado pela pesquisa da Global Industry Analysts (GIA), que aponta que até
2015 o consumo mundial de minério de ferro deve atingir 1,7 bilhão de toneladas
ao ano, aumento de 70% em relação a 2010. O aumento no consumo é impulsionado
pelo crescimento da economia de países emergentes, em especial a China.