segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Justiça libera obra de R$ 3,3 bi e expõe cidades de MT à beira do caos


Edilson Almeida*
A Justiça Federal liberou a continuidade das obras da Usina Hidrelétrica Teles Pires ao manter o licenciamento do empreendimento, na divisa entre Mato Grosso e o Pará, expedido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). A obra, estimada em R$ 3,3 bilhões, prevê um complexo de seis usinas e deverá atrair 30 mil trabalhadores. Em fase inicial, porém, é alvo de muitos problemas. O atraso no investimento, pela Companhia Hidrelétrica Teles Pires, em medidas compensatórias vem degradando a qualidade de vida nas cidades de Paranaíta e Alta Floresta, que enfrentam, entre outras, aumento de casos de prostituição e uso de mão de obra infanto-juvenil. 
Inspeção realizada por promotores do Ministério Público Estadual e procuradores do Ministério Público do Trabalho constatou que nenhuma medida substancial de cunho compensatório foi tomada até o momento pela empresa. Essas medidas estão previstas no Relatório de Impacto Ambiental, com o detalhamento de ações nas chamadas áreas de influência, ou seja, os locais em que as condições sociais, econômicas e culturais serão afetadas diretamente pelo empreendimento.

 O Estudo de Impacto Ambiental prevê, entre outros, que a viabilidade do empreendimento dependeria, previamente, das medidas compensatórias socioambientais. Contudo, a situação caminha para o caos.  “A população que vive nas cidades de Paranaíta e Alta Floresta já sente na pele o aumento populacional, sendo que os municípios não estão suportando o aumento na demanda por serviços públicos decorrente do afluxo populacional” – destacou o promotor Luciano Martins. Estima-se, por exemplo,  que a cada emprego direto são criados mais dois ou três indiretos.

Os estudos ambientais indicam que na região há déficit habitacional. Não há mão de obra ociosa para atender a demanda da usina. “O EIA prevê afluxo populacional em torno de 30 mil pessoas, sendo evidente que as pequenas cidades impactadas não possuem a mínima estrutura para receber tanta gente” – acrescenta o promotor, ao questionar onde serão colocadas  essas pessoas.

Fora isso, Luciano Martins enfatizou que  a Companhia Teles Pires havia se comprometido a atender suas demandas iniciais com o objetivo de preparar as cidades para o recebimento de trabalhadores e familiares. “Até agora não existem medidas concretas ou investimentos reais em obras, aquisição de equipamentos públicos e insumos que possam atender o aumento nas necessidades públicas ocasionados pelo empreendimento” – ele frisou.

A Companhia Rio Teles Pires é formada pelas  empresas Neoenergia S/A, com 50,1% de participação, a Eletrosul Centrais Elétricas S/A, com 24,5%, Furnas Centrais Elétricas S/A, com 24,5% e, a empreiteira Odebrecht Participações e Investimentos S/A, com 0,9%.

O promotor  Marcelo Vacchiano admitiu que serão adotadas ações em conjunto com o Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho. “Uniremos nossas instituições para enfrentar os interesses puramente econômicos em defesa da sociedade pois dentro de três anos as obras estarão concluídas e o que ficará para a sociedade será apenas a ressaca do empreendimento. Esta região já sofreu com o declínio do ciclo do ouro, da mineração e da madeira. Não podemos deixar a história se repetir", explicou.

O acréscimo populacional em decorrência da obra, com a expectativa de criação de quase 30 mil  postos de trabalho, diretos e indiretos, nas cidades de Paranaíta e Alta Floresta, em que pese o volume de emprego, tem sido observado com extrema preocupação por parte do Ministério Público do Trabalho.  “As cidades de Alta Floresta e Paranaíta notoriamente não têm mão de obra capaz de atender o projeto e à empresa construtora, por sua vez, não restará outra saída senão trazer trabalhadores de outras cidades” - explicou o procurador do Trabalho, Jefferson Rodrigues.

“No papel, tudo parece belíssimo. Porém quando vou à cidade de Paranaíta o que ouço é a reclamação da presidência do Conselho Municipal das Crianças e Adolescentes, bem como das conselheiras tutelares, quanto ao aumento dos índices de trabalho infantil, na cidade, ante a escassez de mão de obra, bem como a exploração sexual de crianças e adolescentes” - disse.

O MPT aguarda com grande expectativa a reunião marcada para o dia 12 de dezembro próximo com os Municípios atingidos a fim de que a Companhia Teles Pires ponha fim ao impasse e, voluntariamente, exercendo a sua função social prevista na Constituição, assine o termo de cooperação técnica tão importante para os cidadãos que vivem no norte do estado do Mato Grosso.
 
Comentários
0 Comentários

0 comentários: