Por Edilberto Sena*
De repente aterrisou em Santarém o anjo exterminador, ministro do meio ambiente, Carlos minc. Chegou com a fúria de um todo poderoso dono da Amazônia, que veio punir os malfeitores que invadiram seu domínio para roubar madeira.
Chamou os meios de comunicação locais, ofereceu helicóptero para eles registrarem o acontecimento épico. Acompanhado da gestora do Ibama em Santarém, da Polícia Federal, um acólito de Brasília e vários repórteres, foi o anjo exterminador para o município de Prainha, um dos "garimpos"de roubo de madeira.
A operação Bajara era para ser secreta, mas tudo indica que algum espião mandou aviso antecipado aos donos de madeireiras clandestinas (nem tanto clandestina pois a madeira está amontoada a céu aberto naquela região).
Ali na região do rio Uruará é onde o presidente acaba de decretar mais uma Reserva Extrativista sonhada há dez anos pelos moradores tradicionais, porém saiu uma "resequinha", já que a governadora do Pará não permitiu que fosse feita como planejada originalmente. Afinal, ali há fazendas e muita madeira preciosa, como Ipê e Angelin.
Mas, como ia contando, o ministro foi direto ao local dos crimes. O helicóptero pousou com cuidado numa das clareiras, para não ser atingido por um monte de toras de madeiras, justamente aquelas, ipê, angelin, jatobá, entre outras preciosidades.
Ao ver aquilo o anjo exterminador falou estupefato: "aqui está o filé do filé do crime..." e imediatamente declarou ao mundo que aquele lote de cerca de 40.000 metros cúbicos de madeira estava confiscado e deveria ser transportado para o patio do Ibama em Santarém.
Sobrevoando aquela região de Prainha, que foi excluída da nova Resex e por isso se entende o porquê, a equipe identificou mais outros montes de toras.
Calcularam eles em cerca de 100.000 metros cúbicos de madeira preciosa, certamente ilegais. Haja balsas para transportar toda aquele confisco para Santarém.
Ao chegar em Santarém, o ministro e sua equipe foram ver uma imensa balsa carregada de toras apreendida, recentemente na região. Valor calculado em um milhão de reais. O anjo exterminador fez solene doação daquele lote à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, juntamente com a balsa "criminosa".
Não se sabe ainda se o juiz vai concordar com o ministro, ou se vai devolver ao madeireiro, como já aconteceu em outros momentos. Mas foi doado.
E lá se foi todo feliz o sr Carlos Minc contar a bravura em Brasília e aos canais de telvisão. Certamente dirá - "como o beija-flor, fiz minha parte..."
Se de um lado foi coisa muito boa que fez o ministro Minc lá no rio Uruará de outro, seria preciso que ele fizesse esse gesto de bravura cada semana do ano, uma vez ao rio Curuatinga, outra ao município de Aveiro, outra a Trairão, Itaituba, etc. Talvez assim estancaria a pirataria na região do Oeste do Pará. Bastaria fazer isso durante um ano, com boa equipe de polícia federal e fiscais do Ibama, os confiáveis, bem entendido. Fazer isso uma vez só é realmente teatro para inglês ver.
Não adianta ele dizer que tem muitas outras coisas a fazer pelo meio ambiente, o que é verdade. Mas basta ele colocar dois helicópteros possantes como esse que trouxe aqui, com uma boa equipe de polícia federal disponíel e uma equipe de fiscias confiáveis do Ibama e certamente resolveria a questão da pirataria madeireira.
Ah! ministro se eu fosse você... não que eu seja um anjo exterminador de verdade...
*Padre diocesado e diretor da Rádio Rural AM de Santarém.