
Em 17 de dezembro de 2008 foi aprovado pelo governo do Estado do Pará a Lei Estadual nº 7.243 que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico Econômico da área de Influência da Rodovia BR 163 (Cuiabá – Santarém) e BR 230 (Transamazônica). Este ZEE aprovado atende diretamente aos interesses da agricultura mecanizada que ocupa extensas áreas na região Oeste do Pará. Uma medida do governo para evitar a criação de novas áreas de conservação ou destinação de áreas às populações tradicionais.
No ZEE todas as áreas não protegidas são consideradas zonas de “expansão” e de “consolidação”, que significa gestão de atividades com agricultura mecanizada ou exploração madeireira intensiva. É assim que áreas com características bem distintas como o planalto santareno e a Gleba Nova Olinda recebem os mesmos indicativos de uso, mas sabemos que estas duas regiões possuem características florestais bem diferentes. Porém, a recente ocupação, diga-se de passagem, conflituosa, é feita por cooperativas ou grupos de empresários vindos do sul do país, geralmente com passagem por Mato Grosso, que têm como atividades o monocultivo de soja.
É importante lembrar que o atual ZEE resgata várias iniciativas de sojicultores no Oeste do Pará, pois antes da consolidação da elaboração final do ZEE a Cargill S.A. que contratou a ONG The Nature Conservancy apresentou ao Ministério Público Federal – MPF, IBAMA e INCRA uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, em favor dos sojicultores que cometeram crimes contra a legislação ambiental. A CPT teve acesso a uma cópia da minuta do TAC e constatou os absurdos propostos. Entre eles que o IBAMA perdoasse as multas e que o INCRA se comprometesse em emitir títulos fundiários das terras públicas ocupadas pelos sojicultores. A proposta foi muito criticada pelos movimentos sociais e o MPF não aceitou.
Porém, o Governo do Estado do Pará se propôs a atender aqueles grupos e elaborou o ZEE do entorno das BRs. Foi um dos mais rápidos ZEEs já elaborados. Nele todos aqueles que cometeram crimes ambientais foram anistiados, pois foi reduzida a reserva legal de 80% para 50% para o caso de reflorestamento. Para isto, basta que aquele que cometeu o crime celebre um compromisso de recuperação da área. Como podemos acreditar que pessoas que cometeram crimes, agora com um simples acordo vão cumprir a lei?
Para piorar ainda mais a situação e avançar na farra de destruição da floresta, o Deputado Estadual Lira Maia, que foi prefeito de Santarém no período de 1996 a 2004, e que naquele período foi até o Mato Grosso oferecer terras para o plantio de soja em Santarém, recentemente encaminhou para Brasília um projeto de lei diminuindo a reserva legal que hoje é de 80% na Amazônia para até 35%.
Por outro lado, mas no mesmo sentido, ou seja, atender os interesses do agronegócio na Amazônia, o governo Federal vem tentando de todas as formas editar a Medida Provisória 458 que trata de regularização fundiária. Esta MP é posterior a Instrução Normativa 41 e a MP 422 que tratam do mesmo assunto. Porém, a MP 458 escancara ainda mais as portas para a grilagem. Pois, aumenta os limites passiveis de alienação até 1.500 hectares sem licitação, permitem a concessão de uso de áreas até 2.500 hectares ao mesmo tempo em que dispensa a vistoria para áreas de até 400 hectares.
O governo brasileiro parece se propor a acabar com o problema da grilagem legalizando as áreas griladas. É flagrante a postura dos parlamentares ao fazerem emendas no texto da MP 458 que favorece a grupos fundiários que grilam terras na região. Para termos uma idéia, as terras concedidas para a Reforma Agrária através de Assentamentos têm uma alienação de dez anos para a titulação e não podem ser comercializadas. Já na MP a proposta é que as terras tituladas não tenham nenhum tempo de alienação, ou seja, quem obtiver o titulo poderá sem nenhum prazo vender a área.
A CPT tem alertado para as conseqüências negativas que tais políticas apontam. Temos trabalhado junto às comunidades locais e entidades que os representam para garantir seus direitos e acesso a terra. Temos cobrado do governo em suas diferentes esferas de atuação, políticas públicas que atendam os interesses das populações camponesas e tradicionais, mas os resultados são lentíssimos, por outro lado, políticas que agridem aquelas populações vem a galope.
Santarém, 10 de junho de 2009.
Comissão Pastoral da Terra
Santarém Pará.