domingo, 4 de dezembro de 2011

Paralisar primeiro. Negociar depois. É a central sindical Conlutas

Matéria na revista Exame:


Com esse lema, a radical Conlutas, pequena central sindical criada há um ano, faz barulho e vira onipresente nos protestos em todo o país

Um exemplo desse modo de agir foi o que se deu na recente greve dos operários que fazem a reforma do estádio do Maracanã. Uma semana depois de um acordo assinado pelo sindicato dos trabalhadores na construção pesada do Rio de Janeiro, ligado à central UGT, a Conlutas formou uma comissão para iniciar outra greve.

 “Eles não aceitaram o que foi decidido e queriam uma nova proposta”, diz Paulo Sérgio Rosa, consultor de relações trabalhistas que estava à mesa em nome do consórcio construtor. “O problema teve de ir para a Justiça, que julgou a segunda greve abusiva. O negócio da Conlutas é sempre ir para o confronto.”
O barulho é desproporcional ao tamanho da central. Ela está na oitava posição no ranking das centrais por número de sindicatos associados. Seu orçamento anual, de 660 000 reais, equivale a 2% do que recebem CUT e Força Sindical, aquinhoadas com repasses na casa de 30 milhões de reais pelo Ministério do Trabalho, que recolhe o imposto sindical e o redistribui.
Mas seu lema é participar de todos os embates que envolvam trabalhadores — e mesmo não trabalhadores. Um trunfo da Conlutas é a rapidez em reunir pessoas e tomar decisões. Para isso, em vez de manter uma estrutura vertical, com um presidente no comando, a organização divide suas funções executivas entre 37 secretários — todos considerados líderes com autonomia.
Esse grupo e os sindicatos filiados recebem diariamente um boletim com os temas que estão no radar da central. Sem longas discussões para chegar a um consenso, eles partem para a ação.
Foi esse compartilhamento de informação que fez com que a Conlutas arrecadasse em poucas horas 40 000 reais para pagar a fiança dos 73 estudantes presos pela invasão da reitoria da Universidade de São Paulo, no início de novembro. 
A criação da Conlutas, a 12a central sindical do país, expõe um racha no movimento dos trabalhadores, com grupos disputando poder, influência e, claro, verbas públicas.
“A multiplicação de centrais enfraquece a eficiência do movimento da classe trabalhadora”, afirma o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília. Nesse processo, a Conlutas, como diz Paulo Barela, vai para cima. No final do ano passado, a central venceu a CUT nas eleições do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
Em Minas Gerais, o Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco e Congonhas, filiado à Força, levou a Conlutas à Justiça. Seus dirigentes foram acusados de truculência ao tentar obter nome e telefone de filiados. Parece valer tudo em nome da classe trabalhadora. Mas será apenas em nome dela?

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