Por Edilberto Sena*
Enganar uma pessoa é mal, enganar toda
uma nação é imoral e antiético. Uma criança mentir, não é sadio, mas se
compreende por ela ser ainda uma criança. Porém, um adulto mentir, especialmente
para tirar vantagens, é muito mais grave, é falta de caráter. Ainda mais, se
esse adulto foi eleito para representar interesses da maioria de seus
eleitores. E mais grave ainda, quando a maioria dos deputados federais aprova
uma Medida Provisória indecente, emanada da Presidência da República, que é
altamente prejudicial aos povos da Amazônia e ao meio ambiente do planeta.
Toda essa reflexão surge aqui, por causa
da falta de ética coletiva, tanto da presidente da república, que criou mais
uma medida provisória para encolher grandes áreas de Parques Nacionais e
Florestas Nacionais na Amazônia, como a subserviência dos irresponsáveis
deputados federais, que acabam de aprovar a perversa medida provisória.
O mais grave desse ato imoral é que a
maioria dos deputados federais da própria Amazônia, inclusive os daqui da região
do Tapajós, apoiaram a lei.
Onde está a mentira maior dessa nova
lei? É que ela é apresentada à sociedade com um subterfúgio.
O objetivo principal é legalizar violação da Constituição Nacional. Mais de 150
mil hectares de florestas estão agora autorizadas a serem destruídas com as futuras
barragens de São Luiz do Tapajós, Jatobá e Jamanxim, além de outras em
Rondônia. Só do Parque Nacional da Amazônia, está prevista, pelos cálculos da
Eletronorte, a inundação de 10 mil hectares de floresta, que pela lei dos
Parques Nacionais, seriam invioláveis e impediriam as novas barragens do PAC. E
mais, cerca de 54 mil
hectares desaparecerão das Florestas Nacionais Itaituba I e II.
A mentira imoral é que sendo esta
devastação o objetivo principal da nova lei, o argumento apresentado pela
Presidência da República e espalhado pelos deputados, é que esta Medida Provisória
foi para atender necessidades dos moradores de Belterra e Aveiro, como também
de 50 famílias que vivem no entorno do Parque Nacional da Amazônia e precisam
ser removidos para garantir a intocabilidade do PARNA.
A perversidade da mentira é que aquelas
famílias vinham reclamando direitos há mais de 30 anos e só agora, quando o governo
pretende construir 5 mega-hidrelétricas na bacia do rio Tapajós, é que sancionam
essa Medida Provisória com esse subterfúgio. Como a sociedade pode aceitar tal
imoralidade coletiva de seus representantes?
*Pároco diocesano e Coordenador da
Rádio Rural AM de Santarém. Editorial de 19 de maio de 2012.
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