'Risco [de votar] é perder', afirma líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto. Líder do governo diz que não se opõe à votação, mas defendeu discussão.
Líderes da base aliada afirmaram nesta terça-feira (8) que vão tentar
adiar a votação da PEC do Trabalho Escravo, proposta de emenda à Constituição
que prevê a expropriação, sem indenização, das terras de produtores que
utilizem trabalho escravo em suas propriedades.
Mais cedo, o presidente da
Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), havia anunciado que colocaria a proposta em votação no
plenário. Ao final da sessão, Maia anunciou que a votação ficaria para esta quarta-feira, 09 de maio.
"Eu acho como prudência não pôr [em votação] porque o risco de pôr
é perder. Vou sugerir para o presidente Marco Maia não pautar. CPI, Código
Florestal, o clima não está bom", disse o líder do PT na Câmara, deputado
Jilmar Tatto. Ele falou sobre o tema após almoço entre líderes da base aliada
na casa do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), da qual participou a ministra das
Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Mais cedo, um ato foi realizado na Câmara em favor da aprovação da PEC.
Durante o evento, Marco Maia havia dito que a decisão de colocar em votação
estava tomada. "Colocar em votação é uma decisão do presidente da
Câmara que está tomada. Vamos na reunião de líderes tentar construir uma
maioria para aprovar a matéria hoje", afirmou. O presidente da Câmara
disse considerar a proposta, que enfrenta resistência da bancada ruralista,
como "importantíssima."
Partidos da base, principalmente PMDB e PR, são contra a PEC porque
avaliam que o texto como está não define claramente o que é trabalho escravo e
o que é trabalho análogo à escravidão. Para alguns ruralistas, a proposta daria
margem para que fiscais do trabalho agissem de forma subjetiva, prejudicando os
produtores.
O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, afirmou que o
governo não se opõe à votação caso entre na pauta. "O governo não se opõe
à votação acontecer hoje. Mas, caso seja necessário, adiaremos para fazer essa
análise."
O deputado Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara, avalia que o
texto tem que ser refeito em alguns pontos e pode ser votado em um mês. Ele
propõe que especialistas auxiliem no trabalho de caracterização sobre o que
pode ser ou não considerado trabalho escravo.
A PEC do Trabalho escravo foi aprovada no Senado em 2003 e votada em
primeiro turno na Câmara em 2004. Agora, precisa passar pela votação em segundo
turno. Como é uma proposta que altera a Constituição, a PEC precisa ser votada
em dois turnos em cada Casa. Se aprovada, vai à promulgação. Serão necessários
308 votos favoráveis dos parlamentares e os votos serão abertos.
Apelo de ministros
Nesta terça, os ministros do Trabalho, Brizola Neto, da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e da Secretaria da Igualdade Racial, Luiza Bairros, entregaram a Maia um manifesto pela aprovação da proposta.
Nesta terça, os ministros do Trabalho, Brizola Neto, da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e da Secretaria da Igualdade Racial, Luiza Bairros, entregaram a Maia um manifesto pela aprovação da proposta.
"Tenho certeza de que aqui na Câmara, talvez com esse ato, a gente
consiga fazer um convencimento da importância da PEC", disse Brizola Neto.
Para o ministro, a PEC pode ser o "mais importante instrumento" de
combate ao trabalho escravo.
No auditório Nereu Ramos, da Câmara, a plateia, formada por artistas e
sindicalistas, gritou palavras de ordem como: "Chega de corrente, abaixo a
escravidão!". "Espero que hoje seja um dia histórico para o povo
brasileiro", discursou a ministra Maria do Rosário.
A atriz Letícia Sabatella e o ator Osmar Prado participaram do ato.
"Vamos torcer para aprovar", disse Prado.
Fonte: G1