Felipe Luchete*
Um aviso com tinta já desbotada está afixado na
porta do posto do Incra em Anapu (região central do Pará) desde dezembro,
anunciando o início das atividades do ano em 23 de janeiro.
Mas ninguém apareceu até hoje por ali, uma área de
conflito agrário em que vivem 2.400 famílias assentadas e onde a missionária
Dorothy Stang foi assassinada sete anos atrás.
Dorothy liderava um projeto de agricultura
familiar no PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança. Antes de
morrer, pediu ao Incra a regularização de terras na área para evitar a
violência de grileiros.
"A situação aqui já era inflamada, agora está
pior", diz a missionária Jane Dwyer, que assumiu as funções de Dorothy
após o assassinato.
Na quinta-feira, um grupo de moradores entregou
uma carta ao procurador Paulo Roberto Ramalho --que representa o Incra em
questões legais-- pedindo a reabertura do posto. "Sem o posto [...] as
coisas ficam ainda mais difícil [sic], as atividades de créditos, vistoria e
etc. não acontecem!!", diz o documento.
Segundo o Incra, há dois funcionários da
prefeitura no local para prestar informações à população desde o dia 23.
Moradores e lideranças ouvidas pela reportagem negam, no entanto.
Sem os funcionários do Incra, a fiscalização e o
cadastro de famílias interessadas em lotes do assentamento foram suspensos.
Fernando Leal, chefe da unidade de Altamira --à
qual Anapu está vinculada-- disse que o posto será reaberto em março.
Segundo ele, os servidores voltam para seus
Estados de origem no fim do ano e o regresso deles depende de despesas que
serão aprovadas no orçamento de 2012.
SEGURANÇA
A segurança no PDS Esperança tem outras falhas.
Uma das duas guaritas planejadas pelo Incra para conter o transporte ilegal de
madeira derrubada no assentamento ainda não foi entregue.
A primeira foi inaugurada em agosto de 2011, já
com atraso. Na época, o Ministério do Desenvolvimento Agrário anunciou que a
outra ficaria pronta em até 40 dias.
Seis meses depois, ainda não saiu do papel. Como o
assentamento tem dois acessos, o contrabando de madeira continua sendo feito
pela entrada que está sem controle, de acordo com Jane Dwyer.
O presidente do Incra, Celso Lacerda, disse à Folha ter sido informado pela
superintendência de Santarém que a empresa que ganhou a licitação para fazer a
obra foi ameaçada e deixou o local sem terminá-la. O novo prazo, de 90 dias,
pode aumentar se uma nova concorrência for necessária.
No fim do ano passado, Altamira passou a responder
diretamente ao Incra em Brasília. A superintendência em Santarém continua
responsável por contratos antigos.
Fonte: Folha (fotografia não incluída na matéria original)