segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Posto do Incra na cidade onde Dorothy foi morta está abandonado


Felipe Luchete*

Um aviso com tinta já desbotada está afixado na porta do posto do Incra em Anapu (região central do Pará) desde dezembro, anunciando o início das atividades do ano em 23 de janeiro.

Mas ninguém apareceu até hoje por ali, uma área de conflito agrário em que vivem 2.400 famílias assentadas e onde a missionária Dorothy Stang foi assassinada sete anos atrás.

Dorothy liderava um projeto de agricultura familiar no PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança. Antes de morrer, pediu ao Incra a regularização de terras na área para evitar a violência de grileiros.

"A situação aqui já era inflamada, agora está pior", diz a missionária Jane Dwyer, que assumiu as funções de Dorothy após o assassinato.

Na quinta-feira, um grupo de moradores entregou uma carta ao procurador Paulo Roberto Ramalho --que representa o Incra em questões legais-- pedindo a reabertura do posto. "Sem o posto [...] as coisas ficam ainda mais difícil [sic], as atividades de créditos, vistoria e etc. não acontecem!!", diz o documento.

Segundo o Incra, há dois funcionários da prefeitura no local para prestar informações à população desde o dia 23. Moradores e lideranças ouvidas pela reportagem negam, no entanto.

Sem os funcionários do Incra, a fiscalização e o cadastro de famílias interessadas em lotes do assentamento foram suspensos.

Fernando Leal, chefe da unidade de Altamira --à qual Anapu está vinculada-- disse que o posto será reaberto em março.

Segundo ele, os servidores voltam para seus Estados de origem no fim do ano e o regresso deles depende de despesas que serão aprovadas no orçamento de 2012.

SEGURANÇA
A segurança no PDS Esperança tem outras falhas. Uma das duas guaritas planejadas pelo Incra para conter o transporte ilegal de madeira derrubada no assentamento ainda não foi entregue.

A primeira foi inaugurada em agosto de 2011, já com atraso. Na época, o Ministério do Desenvolvimento Agrário anunciou que a outra ficaria pronta em até 40 dias.

Seis meses depois, ainda não saiu do papel. Como o assentamento tem dois acessos, o contrabando de madeira continua sendo feito pela entrada que está sem controle, de acordo com Jane Dwyer.

O presidente do Incra, Celso Lacerda, disse à Folha ter sido informado pela superintendência de Santarém que a empresa que ganhou a licitação para fazer a obra foi ameaçada e deixou o local sem terminá-la. O novo prazo, de 90 dias, pode aumentar se uma nova concorrência for necessária.

No fim do ano passado, Altamira passou a responder diretamente ao Incra em Brasília. A superintendência em Santarém continua responsável por contratos antigos.

Fonte: Folha (fotografia não incluída na matéria original)
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