A
dificuldade em se avançar nas negociações sobre o reassentamento de três
comunidades foi o estopim
Uma manifestação contra a Vale que começou nesta
terça, 14, na cidade de La Loma, no departamento de Cesar, na Colômbia, já
contabiliza um policial morto, vários feridos e casas e carros incendiados. A
dificuldade em se avançar nas negociações sobre o reassentamento de três
comunidades foi o estopim para a crise. Os moradores têm sofrido com a
contaminação gerada pela mineradora, muitos estão doentes, e exigem que a
negociação seja feita diretamente com a empresa, não apenas por intermédio do
governo.
O protesto começou em Plan Bonito, onde a estrada e
a linha férrea que escoam o carvão foram interrompidas. Mais de 100 caminhões
com capacidade de 35 toneladas cada não puderam passar, assim como um trem com
135 vagões que carrega 60 toneladas de minério cada um. Ao saber do bloqueio,
os moradores de La Loma também organizaram uma manifestação, que terminou em
conflito com a chegada da polícia anti-distúrbios, um grupo especial da Polícia
Nacional da Colômbia. O clima é tenso no local.
Os moradores de La Loma exigem que a Vale remova o
depósito de rejeitos da mina e que comece a fazer aterros, além de interromper
o corte de eucaliptos, única proteção ambiental da região. Os manifestantes
querem também investimento em capacitação e oportunidades de trabalho, e poder
negociar diretamente com um representante da Vale da Colômbia ou do Brasil. As
negociações até o momento têm sido através do Fundo Nacional de Desenvolvimento
– FONADE, uma instituição do governo colombiano contratada pela empresa, mas
que não tem cumprido com prazos e exigências da população.
Na Colômbia a Vale produz carvão térmico extraído
da mina a céu aberto El Hatillo. Localizada ao lado da cidade de La Loma, a
mina ocupa uma área de 9.693 hectares. A empresa opera também o Porto de Rio
Córdoba, situado na costa caribenha do departamento de Magdalena, e conta com
8,4% de participação na Ferrocarriles Del Norte de Colombia S.A. (FENOCO), que
administra a ferrovia de ligação entre as operações de carvão da Vale e o
porto. As mineradoras Drummond, Glencore e CNR também exploram minério no
departamento de Cesar.
Manifestações contra a Vale se espalham pelo mundo
Desde o começo do ano houve praticamente um
protesto popular por semana contra a Vale, com bloqueio das operações da
empresa. Em janeiro e fevereiro, houve manifestações em Açailandia e Buriticupu
(Maranhão, Brasil), Cateme (Moçambique), Sudbury (Canadá), Morowali (Indonésia)
e agora na Colômbia. Já em Altamira, no Pará, onde a Vale é sócia do consórcio
que constrói a hidrelétrica de Belo Monte, manifestantes ocuparam a primeira
barragem do rio Xingu e interromperam os trabalhos das máquinas.
Coincidentemente, o último conflito na Colômbia
aconteceu exatamente nos dias em que a Vale divulgou seus lucros bilionários e
novos recordes de investimento e renda. “São duas faces do mesmo
‘desenvolvimento’, que atropela sem escrúpulos as comunidades que habitam as
regiões onde a Vale faz seu lucro estratosférico”, afirma Andressa Caldas, do
Movimento Internacional dos Atingidos pela Vale.
Recentemente
a empresa foi escolhida a pior corporação do mundo no Public Eye Awards,
conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial. Criado em 2000, o
Public Eye é concedido por voto popular em função de problemas ambientais,
sociais e trabalhistas, e entregue durante o Fórum Econômico Mundial, na cidade
suíça de Davos.
Fonte: Justiça nos Trilhos
via Brasil de Fato