quarta-feira, 10 de abril de 2013

Abin monitora movimento sindical no Porto de Suape

De acordo com a publicação, texto sigiloso revela ‘missão’ de fiscalizar possível reação de trabalhadores contra MP dos Portos

O jornal O Estado de S. Paulo publicou, nesta segunda-feira (8), matéria sobre documento sigiloso obtido pelo veículo com a confirmação de que o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) mobilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar portuários e sindicatos contrários a Medida Provisória 595, conhecida como MP dos Portos. Segundo o jornal, o ofício desmente o ministro-chefe do GSI, general José Elito, que chamou de “mentirosa” a reportagem do Estado que revelava a ação da Abin no Porto de Suape, em Pernambuco.

De acordo com O Estado de S. Paulo, o ofício encaminhado a superintendências da Abin em 15 Estados litorâneos, identificado como “Ordem de Missão 022/82105”, de 13 de março de 2013, traz em destaque o alvo dos agentes: “Mobilização de Portuários”. Segundo o jornal, o GSI confirma a autenticidade do documento.

A matéria informa ainda que a “missão” da Abin, de acordo com o documento, é identificar ações grevistas como reação à medida provisória que altera o funcionamento dos portos. O Estado de S. Paulo afirma que o alvo central são sindicalistas ligados à Força Sindical e que a central sindical se uniu às críticas feitas pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), contra a MP dos Portos. Campos é possível candidato à Presidência em 2014.

A reportagem mostrou, na última quinta-feira (4), que a Abin vigia os passos dos portuários de Suape, em Pernambuco. Segundo o jornal, na ocasião, o general Elito, após reunião com a presidente Dilma Rousseff, divulgou nota dizendo ser “mentirosa a afirmação de que o GSI/Abin tenha montado qualquer operação para monitorar o movimento sindical no Porto de Suape ou em qualquer outra instituição do País”.

A matéria afirma ainda que a ordem contida no ofício 022/82105, porém, é clara sobre o monitoramento de sindicatos que atuam em portos e reproduz trecho do documento sigiloso: “dirigentes sindicais ligados à Força Sindical pretendem promover paralisação nacional de 24 horas no dia 19 mar. 2013”. O Estado de S. Paulo divulga ainda outro trecho do documento, que cita a Federação Nacional dos Portuários e a Central Única dos Trabalhadores (CUT): “portuários filiados a essas entidades devem começar a se reunir em assembleias a partir de 15 mar. 2013 para definir os rumos da mobilização - ações paredistas não podem ser descartadas”.

Segundo a reportagem, pouco antes de deflagrada a Ordem de Missão, em 13 de março, uma equipe formada por agentes de Brasília percorreu os estados alvo para uma ação de vigilância prévia que incluiu, pela primeira vez, a utilização de um equipamento de filmagem israelense que permite a transmissão, em tempo real e em alta resolução, de imagens captadas nos portos.

“No bunker montado em Brasília para a análise da movimentação dos portuários e associações da categoria, os agentes, nos dias que antecederam à data considerada como de provável paralisação, foram colocados em plantão permanente, distribuídos em quatro turnos de seis horas (19h-1h; 1h-7h; 7h-13h e 13h-19h). A estrutura utilizada para mapear a ação dos portuários e sindicatos foi semelhante, em tamanho, utilização de recursos humanos e até mesmo na montagem de uma sala especial para os analistas envolvidos na operação, à montada para a Rio + 20. Além das equipes mobilizadas nas superintendências para a espionagem de campo, oficiais lotados em outros Estados foram deslocados para Brasília e incorporados à força-tarefa de espionagem sindical. Todos os reforços foram alojados na Escola de Inteligência (Esint), localizada dentro da própria Abin, no Setor Policial Sul, na capital”, diz a matéria.

 De acordo com a apuração do Estado de S. Paulo, nas superintendências a Ordem de Missão expedida pela direção da Abin, comandada pelo analista Wilson Trezza, foi desdobrada em novas missões, algumas mais intensas, com infiltrados, como a desencadeada em Suape. A publicação afirma que o porto pernambucano foi considerado um epicentro pela capacidade de movimentação de cargas e potencial de irradiação da greve a outros Estados.

A reportagem afirma que nove dias antes de desencadeada a operação nacional pela Abin, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP), reuniu-se com portuários e com o governador Eduardo Campos, quando a paralisação foi discutida e que antes, apesar de invasões de navios em Santos e do bloqueio, em 22 de fevereiro, de 16 navios em Paranaguá (PR), nenhuma ação, conforme revelou o Estado, fora desencadeada.

De acordo com O Estado de S. Paulo, dirigentes da Força Sindical reagiram à ação da Abin e ontem (7), em evento da central em São Paulo do qual Eduardo Campos foi convidado a comparecer, o tema Abin voltou à tona.

Segundo a reportagem, o aparato utilizado e o objetivo da missão provocou tensão dentro do próprio governo, entre os órgãos que compõem o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). Acionada, a Diretoria de Inteligência da Polícia Federal se recusou a participar da operação. A característica da missão e a prioridade dada à movimentação dos sindicatos e portuários é sintoma, segundo agentes ouvidos reservadamente pela reportagem, da “militarização” da Abin, sob o comando hierárquico do general Elito.

A matéria diz ainda que boa parte das superintendências é hoje chefiada por R-2, como no jargão interno os oficiais de inteligência identificam os militares com passagem pelos serviços de informação das Forças Armadas e que foram incorporados à Abin, e essa estrutura de comando dá prioridade a uma “pauta ideológica”, segundo oficias de inteligência ouvidos pelo Estado, com foco no acompanhamento de movimentos sindicais e sociais.

* Fonte: O Estado de São Paulo - Com edição do ANDES-SN

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