Kátia
Brasil*
Um dia após a absolvição do principal acusado de matar um casal de
extrativistas no interior do Pará, uma testemunha da acusação se disse ameaçada
e pediu ontem para deixar o Estado.
Laísa Sampaio, 47, é irmã de Maria do Espírito Santo, morta em
maio de 2011 ao lado do marido, José Cláudio Ribeiro da Silva.
Ela vive em um assentamento rural em Nova Ipixuna (sudeste do PA),
a cerca de 4km do agricultor José Rodrigues Moreira, absolvido anteontem da
acusação de ser o mandante das mortes.
No julgamento, diante dele e de dois acusados de serem os
pistoleiros, a professora Laísa contou que o casal --que denunciava posseiros e
madeireiros da região-- vinha sendo ameaçado e tinha um conflito com Moreira.
O crime teve repercussão internacional e expôs o agravamento da
violência agrária na região da Amazônia.
O resultado do julgamento --apenas os executores foram condenados
a penas de até 45 anos de prisão-- revoltou militantes que acompanhavam a
sessão, que chegaram a lançar pedras e a pichar a fachada do fórum de Marabá.
"Depois do resultado aumentou o medo", afirmou Laísa,
que disse ter sido orientada a não voltar ao assentamento pois seria
"perigoso".
Proteção
Laísa integra desde 2012 o Programa de Proteção aos Defensores de
Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
"Meu nome está inserido no programa porque estou ameaçada. Mas não tenho
segurança nenhuma."
A secretaria informou que o programa acompanha a professora
periodicamente, e que escoltas policiais ocorrem quando solicitadas --o que
Laísa diz ter feito.
A pasta também divulgou nota conjunta com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário em que afirma que a absolvição de Moreira traz
"sensação de impunidade" e "prejudica a luta que defendem a
geração de renda com preservação da floresta".
A CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço agrário da Igreja
Católica no Brasil, criticou o resultado do julgamento e disse que a situação
dos familiares do casal morto é "grave" e "vulnerável".
O Ministério Público do Pará pediu um novo julgamento. O recurso
será analisado pela segunda instância do Judiciário paraense, em Belém.
Fonte: Folha