'É um pouco estranha essa utilização da
Força Nacional como vigia em canteiros', disse Defensor público
A Defensoria Pública do Pará em
Altamira encaminhou um ofício ao Ministério Público Federal pedindo
investigação sobre a atuação da Força Nacional de Segurança Pública nas obras da
Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. De acordo com o defensor
público Fábio Rangel, coordenador do órgão na região, operários que trabalham
no canteiro Belo Monte, uma das frentes de obras, denunciaram a ação truculenta
de homens da tropa federal.
As denúncias foram feitas durante
vistoria de um grupo de defensores ao canteiro Belo Monte, na última
quarta-feira (10).'É um pouco estranha essa utilização da Força Nacional como
vigia em canteiros', disse Rangel. Segundo ele, na vistoria, operários também
reclamaram que 'trabalhar no canteiro é como estar em um cárcere'. Rangel disse
que os defensores indicaram possível inadequação do ambiente de trabalho dos
operários.
'Não pelas condições físicas, já que o
alojamento tem ar condicionado e número suficiente de banheiros, mas pela
condição de trabalharem sob pressão, sendo vigiados até dentro dos refeitórios
e com imposição de lei do silêncio à noite', disse por telefone, à Agência
Brasil.
Outro defensor público do Pará, Márcio
Alves Figueira, que participou da vistoria disse que 'em tese, nenhuma força
pública pode estar à disposição de qualquer empreendimento privado, devendo ser
chamada apenas quando há um fato [de risco] específico'. Ele enfatizou, no
entanto, que cabe ao Ministério Público Federal investigar se a situação no
local pode ser considerada irregular por esse motivo.
O defensor acrescentou que, por esse
motivo, também foi enviado um ofício ao Ministério Público Estadual, pedindo
investigação sobre a atuação de policiais militares no canteiro. O órgão
encaminhou, ainda, um relatório com os resultados da vistoria ao Ministério
Público do Trabalho, solicitando o envio de um representante para verificar
possíveis violações trabalhistas.
Segundo os defensores, os operários
também se queixaram de estarem isolados no local, em razão da dificuldade de
acesso à cidade de Altamira, distante cerca de 50 quilômetros.
O CCBM (Consórcio Construtor Belo
Monte), responsável pelas obras civis do empreendimento, negou o isolamento de
operários e garantiu que disponibiliza, gratuitamente, linhas de ônibus
suficientes para o transporte dos trabalhadores, principalmente no início da
manhã e a partir das 17h, com a saída de um dos turnos.
Por meio de sua assessoria de imprensa,
a empresa enfatizou que os operários podem entrar e sair dos canteiros sempre
que quiserem, desde que devidamente identificados com o crachá funcional.
Sobre as denúncias contra a Força
Nacional, o diretor administrativo do consórcio, Marcos Luiz Sordi, negou a
presença da tropa no canteiro Belo Monte, que foi vistoriado pelos defensores,
e conta apenas com a atuação da Polícia Militar. Segundo ele, que está em
Altamira, a Forçaa Nacional garante a segurança nos canteiros de Canal e Diques
e Pimental. Sordi enfatizou que não há qualquer registro de intimidação ou
ameaça contra os operários pelas forças policiais.
'Não tem nada disso, a PM faz apenas
ronda. Inclusive, os policiais comem no mesmo refeitório que todo mundo. Não se
aproximam da frente de serviço, nem ficam na portaria. Estão ali para o caso de
acontecer alguma coisa', explicou, ressaltando que homens do pelotão de choque
da PM podem ter sido confundidos com integrantes da Força Nacional, por usarem
uniformes camuflados parecidos.
O Ministério da Justiça informou, em
nota, que a presença da Força Nacional nas obras de Belo Monte deve-se ao seu
caráter estratégico para o Brasil e ao grande contingente de trabalhadores que
dela participam. Segundo o documento, o objetivo é 'garantir a integridade
física dos trabalhadores, dos demais cidadãos e do patrimônio, além da
manutenção da ordem pública', diante do 'histórico de conflitos no local,
provocados por pequenos grupos, mas com consequências materiais
significativas'. O ministério ressaltou que a Força Nacional não realiza em
Belo Monte qualquer interferência na relação entre empresas e trabalhadores e
lembrou que ela atua em outras seis operações no Pará.
O Ministério da Justiça acrescentou que
até agora não recebeu nenhuma notificação da Defensoria Pública do Pará nem do
Ministério Público Federal e que não há qualquer registro de restrição de
direitos nem de conflitos maiores envolvendo profissionais da Forca Nacional em
Belo Monte.
Homens da Força Nacional que já atuavam
no estado do Pará foram destacados, no fim do mês passado, a pedido do
Ministério de Minas e Energia, para fazer a segurança das obras de
infraestrutura energética em andamento como, por exemplo, a Usina Hidrelétrica
de Belo Monte. O pedido de reforço de segurança foi feito pelo ministro Edison
Lobão em 21 de março.
A medida foi criticada por entidades e
movimentos sociais que atuam na região, como a organização não governamental
(ONG) Xingu Vivo, que considerou a iniciativa uma tentativa de reprimir, com o
uso da força, manifestações populares das comunidades indígenas e ribeirinhas.
Fonte: Agência Brasil