Traídos. É
assim que o povo munduruku se sente em relação ao governo federal devido ao
início da chamada “Operação Tapajós”, o envio de mais de duzentos militares e
civis para adentrar em terras indígenas e garantir a entrada de técnicos que
realizam estudos ambientais visando a implantação do Complexo do Tapajós,
conjunto de hidrelétricas previstas para a bacia deste rio.
No último
dia 29 de março, 70 lideranças indígenas Mundudukus do Alto e Médio Tapajós se
reuniram na Aldeia Sawré Maybu, em Itaituba, Oeste do Pará. Essa Terra Indígena
ainda não foi delimitada pela Fundação Nacional do Índio e está seriamente
ameaçada pela hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.
Para se
chegar à Aldeia Sawré Maybu partindo de Itaituba é necessário percorrer a rodovia
Transamazônica pode dentro do Parque Nacional da Amazônia até um ramal que dar
acesso a uma das margens do rio Tapajós (ramal do Quilômetro 70).
Posteriormente, o percurso tem que ser feito por via fluvial, pelo rio Tapajós,
partindo do porto denominado Buburé.
Os
Mundurukus relatam que resolveram se unir frente às ameaças do governo
brasileiro de ataque da Polícia Federal, Rodoviária Federal e das Forças
Armadas destacadas à região para a Operação Tapajós que para eles tem como
objetivo garantir a realização de estudos nas terras Munduruku para viabilizar
a implantação de barragens no rio Tapajós, conforme chegou a afirmar a própria
Advocacia Geral da Uniaõ e o Ministério de Minas e Energia. Veja AQUI.
“Nenhum
pesquisador ou estudioso, no entanto, foi encontrado na região. Nem na área
urbana de Itaituba, no trecho da Transamazônica até o porto Buburé, nas terras
indígenas da região de Itaituba e no rio Tapajós, mas apenas as forças armadas.
Por isso, os Munduruku estão convencidos de que a finalidade da operação é na
verdade para reprimir, coagir e em caso de reação à intimidação, atacar o povo
indígena”, afirmam os indígenas.
Intimidações
Os
Mundurukus relatam que homens da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,
Força Nacional e Exército estão fazendo rondas terrestres, aéreas e fluviais na
área urbana de Itaituba e em todo o percurso da sede do município até o porto
de acesso à Aldeia Sawré Maybu, além das Terra Indígenas localizadas próximas à
Itaituba, na região da Transamazônica.
“Os
policiais e militares estão ostensivamente armados, com equipamentos e se
transportando através de helicópteros, voadeiras, pick ups/carros 4X4. Desde o
dia 27/03/2013 os Munduruku e outras pessoas convidadas para ir à terra Sawre
passaram por constrangimento e intimidação das forças armadas no trajeto de
ida, durante a reunião, na saída e no caminho à Itaituba. Houve entrada de
policiais federais nos ônibus dos indígenas na transamazônica, com tentativa de
forçar escolta. Além de interrogatório das pessoas que estão em circulação neste
trecho, registro de fotos, sobrevôo às terras indígenas da região e passagem de
várias voadeiras pelo rio em frente à aldeias, principalmente da Sawre Maybu”.
Os Munduruku sentiram-se humilhados sem motivo e tratados como bandidos pelos
agentes do governo., ainda segundo relato da reunião do dia 29 de março.
Em outro trecho do relatório, os indígenas declaram
que “estão se sentindo traídos diante do descumprimento da palavra da
Secretaria Geral da presidência da República e do governo sobre esperar a
realização da reunião dos caciques Munduruku no dia 10/04 para manifestação
sobre como querem o processo de consulta prévia à barragem de São Luiz do
Tapajós.”
A reunião
a que os indígenas se referem também foi citada pelo assessor técnico da
Secretaria Nacional de Articulação Nacional da Presidência da República Thiago Garcia por meio de uma nota dirigida para um
grupo de moradores de Montanha Mangabal, pesquisadores e professores. Segundo
Garcia está prevista a realização de uma nova reunião em abril para tratar da
“pactuação de um plano de consulta, nos termos da Convenção 169 da OIT.”
O assessor afirmou ainda, textualmente: “A área dos estudos para o
possível empreendimento está restrita a uma região do Médio Tapajós. Não haverá
ingresso de pesquisadores ou de equipe de segurança em aldeias indígenas
ou comunidades durante o período de estudos. A aldeia indígena mais
próxima à área de abrangência dos estudos - Aldeia Sawre Muybu -
está distante cerca de 50 km do local onde os pesquisadores irão trabalhar.
Ainda assim, o planejamento dos estudos foi apresentado às lideranças da região
e definido um acordo de convivência para que o trabalho dos pesquisadores não
interfira nos deslocamentos da comunidade nem em suas atividades de caça e
pesca.”
Contudo,
além de tudo que já foi dito, os indígenas afirmam que sequer a Coordenação
Regional da Funai de Itaituba sabia sobre início da Operação Tapajós e que as
ações da Operação Tapajós sinalizam uma perda de confiança com os
interlocutores do governo.
Por isso,
mandaram o seguinte recado ao governo:
“Se o governo quiser diálogo com Munduruku tem que parar a Operação Tapajós e
mandar tirar as forças armadas de nossas terras. Nós não somos bandidos,
estamos nos sentindo traídos, humilhados e desrespeitados com tudo isso. O
governo não precisa da polícia e da força nacional para dialogar com o povo
Munduruku. Nós queremos diálogo, mas só falaremos com o governo depois que
todos os caciques do alto, médio e baixo conversarem e tomarem sua decisão. É
nosso último aviso. Se a Operação não parar, não vai ter mais diálogo com os
Munduruku, vamos acionar os caciques e vai ter guerra."
O
relatório cita ainda a carta do encontro das lideranças que segundo eles será
encaminhada para se anexada ao processo referente à hidrelétrica de São Luiz do
Tapajós em andamento na justiça federal. Também declaram que deve ser entregue
ao governo, às autoridades competentes e à sociedade denunciando o que está
acontecendo na região, comunicando a sociedade e exigindo providências,
principalmente a saída imediata das forças armadas de suas terras.
Leia a
carta AQUI ou abaixo (clique nas figuras para ampliá-las)