segunda-feira, 1 de abril de 2013

Operação Tapajós: Mundurukus relatam intimidação e se dizem traídos pelo governo federal


Traídos. É assim que o povo munduruku se sente em relação ao governo federal devido ao início da chamada “Operação Tapajós”, o envio de mais de duzentos militares e civis para adentrar em terras indígenas e garantir a entrada de técnicos que realizam estudos ambientais visando a implantação do Complexo do Tapajós, conjunto de hidrelétricas previstas para a bacia deste rio.

No último dia 29 de março, 70 lideranças indígenas Mundudukus do Alto e Médio Tapajós se reuniram na Aldeia Sawré Maybu, em Itaituba, Oeste do Pará. Essa Terra Indígena ainda não foi delimitada pela Fundação Nacional do Índio e está seriamente ameaçada pela hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. 

Para se chegar à Aldeia Sawré Maybu partindo de Itaituba é necessário percorrer a rodovia Transamazônica pode dentro do Parque Nacional da Amazônia até um ramal que dar acesso a uma das margens do rio Tapajós (ramal do Quilômetro 70). Posteriormente, o percurso tem que ser feito por via fluvial, pelo rio Tapajós, partindo do porto denominado Buburé.


Os Mundurukus relatam que resolveram se unir frente às ameaças do governo brasileiro de ataque da Polícia Federal, Rodoviária Federal e das Forças Armadas destacadas à região para a Operação Tapajós que para eles tem como objetivo garantir a realização de estudos nas terras Munduruku para viabilizar a implantação de barragens no rio Tapajós, conforme chegou a afirmar a própria Advocacia Geral da Uniaõ e o Ministério de Minas e Energia. Veja AQUI.

“Nenhum pesquisador ou estudioso, no entanto, foi encontrado na região. Nem na área urbana de Itaituba, no trecho da Transamazônica até o porto Buburé, nas terras indígenas da região de Itaituba e no rio Tapajós, mas apenas as forças armadas. Por isso, os Munduruku estão convencidos de que a finalidade da operação é na verdade para reprimir, coagir e em caso de reação à intimidação, atacar o povo indígena”, afirmam os indígenas.

Intimidações
 Os Mundurukus relatam que homens da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional e Exército estão fazendo rondas terrestres, aéreas e fluviais na área urbana de Itaituba e em todo o percurso da sede do município até o porto de acesso à Aldeia Sawré Maybu, além das Terra Indígenas localizadas próximas à Itaituba, na região da Transamazônica.

“Os policiais e militares estão ostensivamente armados, com equipamentos e se transportando através de helicópteros, voadeiras, pick ups/carros 4X4. Desde o dia 27/03/2013 os Munduruku e outras pessoas convidadas para ir à terra Sawre passaram por constrangimento e intimidação das forças armadas no trajeto de ida, durante a reunião, na saída e no caminho à Itaituba. Houve entrada de policiais federais nos ônibus dos indígenas na transamazônica, com tentativa de forçar escolta. Além de interrogatório das pessoas que estão em circulação neste trecho, registro de fotos, sobrevôo às terras indígenas da região e passagem de várias voadeiras pelo rio em frente à aldeias, principalmente da Sawre Maybu”. Os Munduruku sentiram-se humilhados sem motivo e tratados como bandidos pelos agentes do governo., ainda segundo relato da reunião do dia 29 de março. 

Recado à Presidência da República
Em outro trecho do relatório, os indígenas declaram que “estão se sentindo traídos diante do descumprimento da palavra da Secretaria Geral da presidência da República e do governo sobre esperar a realização da reunião dos caciques Munduruku no dia 10/04 para manifestação sobre como querem o processo de consulta prévia à barragem de São Luiz do Tapajós.”

A reunião a que os indígenas se referem também foi citada pelo assessor técnico da Secretaria Nacional de Articulação Nacional da Presidência da República Thiago Garcia por meio de uma nota dirigida para um grupo de moradores de Montanha Mangabal, pesquisadores e professores. Segundo Garcia está prevista a realização de uma nova reunião em abril para tratar da “pactuação de um plano de consulta, nos termos da Convenção 169 da OIT.”

O assessor afirmou ainda, textualmente: “A área dos estudos para o possível empreendimento está restrita a uma região do Médio Tapajós. Não haverá ingresso de pesquisadores ou de equipe de segurança em aldeias indígenas ou comunidades durante o período de estudos. A aldeia indígena mais próxima à área de abrangência dos estudos -  Aldeia Sawre Muybu -  está distante cerca de 50 km do local onde os pesquisadores irão trabalhar. Ainda assim, o planejamento dos estudos foi apresentado às lideranças da região e definido um acordo de convivência para que o trabalho dos pesquisadores não interfira nos deslocamentos da comunidade nem em suas atividades de caça e pesca.”

Contudo, além de tudo que já foi dito, os indígenas afirmam que sequer a Coordenação Regional da Funai de Itaituba sabia sobre início da Operação Tapajós e que as ações da Operação Tapajós sinalizam uma perda de confiança com os interlocutores do governo.

Por isso, mandaram o seguinte recado ao governo: “Se o governo quiser diálogo com Munduruku tem que parar a Operação Tapajós e mandar tirar as forças armadas de nossas terras. Nós não somos bandidos, estamos nos sentindo traídos, humilhados e desrespeitados com tudo isso. O governo não precisa da polícia e da força nacional para dialogar com o povo Munduruku. Nós queremos diálogo, mas só falaremos com o governo depois que todos os caciques do alto, médio e baixo conversarem e tomarem sua decisão. É nosso último aviso. Se a Operação não parar, não vai ter mais diálogo com os Munduruku, vamos acionar os caciques e vai ter guerra."

O relatório cita ainda a carta do encontro das lideranças que segundo eles será encaminhada para se anexada ao processo referente à hidrelétrica de São Luiz do Tapajós em andamento na justiça federal. Também declaram que deve ser entregue ao governo, às autoridades competentes e à sociedade denunciando o que está acontecendo na região, comunicando a sociedade e exigindo providências, principalmente a saída imediata das forças armadas de suas terras.

Leia a carta AQUI ou abaixo (clique nas figuras para ampliá-las)





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