Por
Carlos Madeiro*
Em
depoimento em júri popular, Laísa Sampaio, irmã Maria do Espírito Santo da
Silva, assassinada junto de José Claudio Ribeiro da Silva em maio de 2011, em
Nova Ipixuna (582 km de Belém), afirmou que o casal de extrativistas sofria
vários tipos de ameaças da região.
O
julgamento de três acusados pelo crime começou na manhã desta quarta-feira (3),
no Fórum de Marabá (a 685 km de Belém). Os réus são: José Rodrigues Moreira,
Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento. Eles estão presos
preventivamente desde setembro de 2011.
Laísa
disse que o casal vivia em “constate ameaça”. “Eles lutavam contra e
denunciavam as ilegalidades, a retirada da madeira e os carvoeiros”, disse.
Ela
afirmou que as primeiras ameaças vieram de fazendeiros, ainda por volta de
2001, depois, de madeireiros da região.
“Mas
antes da morte dela soube da outra ameaça, do conflito da terra, e que o senhor
José Rodrigues começou a ameaçar. Essas ameaças ocorriam devido à terra que
Rodrigues comprou no assentamento. Maria disse que ele chegou a falar com ela,
antes de comprar a terra, e ela falou que não comprasse, que lá havia três
agricultores, que era terra da União”, afirmou.
A
irmã também disse que o casal “não era querido” por muitos moradores do
assentamento onde viviam, “Eles tinham o repúdio de muita gente, de pessoas que
vivem do imediatismo. Nem todo mundo tem essa consciência, de respeito pela
floresta. Mas não a ponto de matar”, disse.
Laísa
declarou ainda que o casal costumava denunciar as ilegalidades na posse da
terra no assentamento onde viviam, citando uma suposta cartorária de Marabá
como a vendedora das terras a José Rodrigues e responsável por cometer as
ilegalidades.
“José
Claudio e Maria denunciavam a ocupação de pessoas que sem o perfil de ser uma
cliente de reforma agrária. Não foi por falta de aviso, de denúncia, que isso
ocorreu. O Incra [órgão federal da reforma agrária] foi avisado que havia essa
posse de terra ilegal”, disse.
A
irmã da vítima colocou em dúvida a participação do terceiro réu, Alberto Lopes
do Nascimento . Segundo o Ministério Público, ele teria sido contratado para
ajudar a matar as vítimas.
“São
duas versões. A segunda conheço é a apresentada de que o acompanhante de
Lindonjonson no momento do assassinato seria o José Rodrigues, e não o
Alberto”, disse Laísa.
Primeira testemunha
A
primeira testemunha de acusação começou a depor perto das 10h. Foi o
extrativista e cunhado de Maria do Espírito Santo, José Maria Gomes Sampaio,
que afirmou que havia um desentendimento notório entre José Rodrigues, acusado
de ser o mandante do crime.
Segundo
a testemunha, Rodrigues teria expulsado agricultores assentados do projeto, o
que gerou protestos do casal, que lutava contra a ocupação irregular. “Maria
contou que estava sendo ameaçada por José Rodrigues. Disseram a ela que era
para tomar muito cuidado, que ele ia vingar deles dois”, afirmou.
A
testemunha disse ainda que, além das ameaças de Rodrigues, em 2005 o casal
tinha sido ameaçado por madeireiros. “Eles incomodavam quem tinha ocupação
irregular no local”, disse.
*Fonte: UOL