segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O perigo da saída religiosa para a revolução egípcia


O crescimento da rejeição popular à junta militar que assumiu o governo do Egito após a queda da ditadura de Hosni Mubarak pode está sendo canalizada para um conflito religioso entre cristãos e islâmicos.

Neste domingo, 10 de outubro, grupos armados atiraram contra um protesto de cristãos que denunciavam que um grupo radical islâmico teria destruído uma igreja cristã no interior do país. O protesto dos cristãos foi respondido pelas forças de segurança com o uso de táticas militares, resultando em dezenas de mortos no Cairo, capital do país.

Durante toda a madrugada de segunda, milhares de pessoas protestaram bloqueando ruas, incendiando carros e se enfrentando com tropas militares, resultando em mais mortes. Veículos blindados arremeteram contra uma multidão para dissolver um protesto perto da televisão estatal do Cairo. Vídeos divulgados na internet mostram corpos esfacelados. Ativistas disseram que os corpos foram esmagados por rodas de tanques, informam agências internacionais.

Mascarar a realidade
A revolução democrática egípcia é fruto da luta de milhões de trabalhadores e da juventude do país, árabes cristãos e islâmicos. Nos protestos na Praça Tahir, ficaram clássicas as fotografias de pessoas de religiões diferentes lutando lado a lado.

A impossibilidade da junta militar promover reformas profundas, a grande expectativa das massas, está colocando a revolução egípcia diante de dois caminhos: ou se aprofunda e caminha para transformações mais radicais (saindo de uma revolução política para uma revolução social) ou retroagirá, com uma saída a direita.

Neste sentido, o ataque contra os cristãos soa como uma tentativa da junta militar de criar um clima de enfrentamento religioso, desviando assim o curso do processo para uma saída conservadora. A própria mídia local e parte da mídia internacional vêm repercutindo a notícia de enfrentamentos de cristãos contra muçulmanos, o que vem sendo desmentido por ativistas das duas religiões, que apontam os militares como inimigos.

A fúria dos cristãos contra o exército, e não contra os muçulmanos, demonstra que a armadilha criada pelo “Conselho Supremo das Forças Armadas”, sinaliza, embora seja impossível afirmar o que virá, que o primeiro caminho ainda prevalece na revolução egípcia. 
Comentários
0 Comentários

0 comentários: