Foto: Lunaé Parracho
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Ruy Sposati*
O Consórcio Construtor Belo Monte
(CCBM), responsável pelas obras da usina, demitiu nesta quarta-feira, 16, 141
trabalhadores do canteiro de obras Belo Monte, a 50 quilômetros de
Altamira (PA). Segundo os operários, a empresa não apresentou nenhuma
justificativa formal para as demissões, mas a dispensa ocorreu quatro dias após
a entrega de uma pauta de reivindicações trabalhistas à diretoria do CCBM.
Os atritos com a empresa começaram na
última sexta-feira (11), quando quatro trabalhadores foram demitidos por se
recusarem a realizar um trabalho que estava fora de suas funções. Um clima de
revolta se instalou entre os operários, que, após o expediente de trabalho,
ameaçaram incendiar o canteiro caso as demissões não fossem revertidas.
Por sugestão da própria diretoria do
canteiro, foi eleita uma comissão de quatro representantes dos trabalhadores,
apontados em conjunto com os diretores do consórcio, para conduzir as rodadas
de negociação. “Eles [os diretores] nos escolheram justamente porque a gente
conseguiu acalmar a situação e abrir o diálogo com a empresa”, explica o
pedreiro José Antônio Cardoso, um dos negociadores. O CCBM propôs, então, uma
reunião no sábado (12), com a participação do Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias da Construção Pesada do Pará (Sintrapav-PA).
Na manhã do dia 12, os trabalhadores
realizaram uma paralisação para definir a pauta que seria entregue na
negociação com a empresa, compondo uma lista com 16 reivindicações. Entre os
pontos, destacam-se a exigência do pagamento de horas-extras aos sábados, o
cumprimento do acordo sobre as folgas de 90 dias, aumento do vale-alimentação e
a instalação de telefones no canteiro. Os operários também pediam o aumento do
contingente de fiscalização de seguranças do trabalho, que garantiria a
coibição de desvio de função. “Lá tem cinco seguranças, pra umas 20 frentes de
trabalho. Isso é um problema muito sério, que no próprio treinamento da empresa
eles disseram que nós precisamos ajudar a evitar. E foi aí que todo esse
problema começou”, explica o carpinteiro Walter Almeida, também do grupo
negociador.
Durante o encontro, a diretoria da
empresa se comprometeu a encaminhar as propostas à superintendência de Belo
Monte e não retaliar nenhum dos trabalhadores envolvidos nas ações e nas
negociações. Contudo, na manhã de quarta-feira (16), os funcionários se
depararam com uma lista de 137 demitidos, afixada na entrada do canteiro.
Ainda pela manhã, os demitidos foram
colocados em ônibus pela polícia e retirados do local.Os quatro representantes
dos trabalhadores, escolhidos para conduzir as negociações, no entanto,
receberam “tratamento especial”. Para evitar que buscassem órgãos competentes
em Altamira para denunciar os abusos, como o Ministério Público do Trabalho e
Defensoria Pública, eles foram escoltados pela polícia até Anapu, município à
uma hora e meia do canteiro, onde pegariam um ônibus para Marabá e, de lá,
outro para Estreito (MA), município de origem. “Nós quatro fomos escolhidos
pela empresa para ajudarmos nas negociações e evitar conflitos. E simplesmente
fomos demitidos. A empresa usou a gente e jogou fora”, lamenta Walter.
A escolta foi realizada pela Rondas
Ostensivas Táticas Metropolitanas (ROTAM), polícia de elite vinda de Belém e
responsável por prevenir e reprimir situações de criminalidade violenta.
De acordo com os trabalhadores, eles foram vigiados de perto e
acompanhados por policiais até quando iam ao banheiro.
Os outros 137 demitidos também foram
encaminhados pela polícia, e seguiram viagem para o Maranhão. Ao contrário da
maioria dos 1800 trabalhadores da obra, os 141 afastados viviam no próprio
canteiro, em alojamentos de tecido sintético conhecidos como “carpas”. No
total, cerca de 300 pessoas moram no local.
Fonte: Xingu Vivo