sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dataluta: a geografia da luta pela terra na primeira década do século XXI


O Brasil agrário traz consigo nessa primeira década do século XXI a continuidade de um alto índice de concentração de terra. Os dados levantados nesse relatório DATALUTA 2010, a partir do Sistema Nacional de Cadastro Rural – SNCR permite-nos analisar que ao mesmo tempo em que cresce o número da pequena propriedade, contraditoriamente também aumenta de forma mais veloz a área das grandes propriedades.


É principalmente em razão dessa desigualdade, dentre outras, que sujeitos sociais envolvidos nos movimentos socioterritoriais do campo realizam manifestações nas estradas, com marchas, caminhadas, bloqueios e interdições de veículos; que ocupam agências bancárias e prédios públicos; que se concentram em espaços públicos como praças e avenidas dos grandes centros urbanos. É nessa geografia da prática contestatória que mais de 4,8 milhões de pessoas se mobilizaram nessa primeira década do século XXI contra a concentração de terras e por um limite do tamanho da propriedade no Brasil; contra um modelo único de desenvolvimento pautado em políticas neoliberais e por respeito a autonomia, cultura e modo de vida dos povos do campo.

Foi a partir desse grito dos posseiros, sem-terras, acampados, assentados, quilombolas, ribeirinhos, bóias-frias indígenas entre outras categorias que possamos classificar esses sujeitos sociais que vivem na/da terra, que nesse relatório apresentamos as primeiras sistematizações dos dados referentes ao que denominamos de Manifestações do Campo. Poderemos observar a partir dos dados levantados pela Comissão Pastoral da Terra e sistematizados pelo DATALUTA que 35% das manifestações realizadas no Brasil no período de 2000 a 2010 se concentraram na região Nordeste, seguidas das regiões Sul (21,8 %) e Centro Oeste (15,2%), assim como todos
os estados registraram algum tipo de ação dos movimentos socioterritoriais.

O DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra – é um projeto de pesquisa e extensão criado em 1998 no Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária – NERA – vinculado ao Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, campus de Presidente Prudente. A elaboração do primeiro Relatório DATALUTA em 1999, com os dados de 1998, foi o início desta publicação de categorias essenciais da questão agrária brasileira, superando a dificuldade de acesso aos dados sistematizados sobre ocupações e assentamentos. Em 2004, incorporamos as categorias movimentos socioterritoriais e estrutura fundiária, e recentemente, em 2010, a categoria manifestações do campo. Os relatórios são compostos de gráficos, tabelas, quadros e mapas sobre parte da realidade agrária brasileira.

Comentários
2 Comentários

2 comentários:

blogger disse...

Candido,
Excelente a tua postagem. A luta pela democratizacao da terra é dura, combatida. Mas como diz Eduardo Galeano "os poderosos nao temem o pobre. Teme o pobre que pensa". E esse pensar o Movimento dos
Sem Terra vem procurando fazer atraves da sua escola itinerante. Incomoda tanto que no RS houve um termo de Acordo de Conduta entre a Secretaria de Educacao e a Brigadda Militar para que os alunos dos assentamentos nao fossem matriculados nessas escolas e sim em escolas publicas urbanas que ficam a até 50 km de distancia.
Outrossim, gostaria de pergunta ao companheiro como baixar o banco de dados do dataluta.

Cândido Cunha disse...

Obrigado pelas considerações. Importante destacar a luta pela terra no momento em que a pauta da reforma agrária perde espaço. Sobre o DataLuta, sugiro que acesse esta página http://www4.fct.unesp.br/
Abraço