Uma carta assinada por 51 militantes
de vários estados (RS, SP, RJ, SC, CE, AL, DF) ligados ao Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos sociais com mesma
plataforma política (Movimento Consulta Popular, Via Campesina, Movimento dos
Trabalhadores Desempregados e Movimento dos Pequenos Agricultores) está
circulando na internet e gerando forte repercussão.
A ruptura, que provavelmente não seja
a maior da história destas organizações, inova pelo método da carta pública,
não muito usual em grupos com as matizes políticas como o MST, onde as
depurações, expulsões e rompimentos se dão quase que nos bastidores, muitas
vezes sem participação dos próprios envolvidos. Aliás, esta observação é a
mensagem final do texto: “É
importante ressaltar que alguns dos que assinam este documento já se afastaram
ou foram expulsos das
organizações que faziam parte em 2009 e 2010 sem poderem expor seus motivos, o
fazem agora nesta carta”.
O documento faz uma dura crítica às entidades de
trabalhadores que teriam um papel de contenção dos trabalhadores dentro do
“pacto de colaboração de classes” dentro no novo momento histórico que são os
governos petistas. “São tempos de aparente melhoria das
condições de vida da classe trabalhadora no Brasil, pelo menos até a próxima crise. Mas será que está tudo tão bem
assim? O resultado do desenvolvimento e
crescimento econômico dos últimos anos são migalhas para os
trabalhadores e lucros gigantescos para o
capital: aumenta a concentração da terra, os trabalhadores se endividam,
intensifica-se a precarização do trabalho
e a flexibilização de direitos, garantidos pela violência do aparelho
repressivo do Estado”, diz um dos primeiros parágrafos da carta.
Para
os militantes, além das entidades com as quais rompem, a CUT e o PT, estão
dependentes do capital e do Estado. “As lutas de enfrentamento passaram a
ameaçar as alianças políticas do pacto de classes, necessárias para manter os
grandes aparelhos que conquistamos e construímos. O que em algum momento nos
permitiu resistir e crescer, se desenvolveu de tal maneira que se descolou da
necessidade das famílias e da luta, adquirindo vida própria. O que viabilizou a
luta hoje se vê ameaçado por ela: o que antes impulsionava a luta passa a
contê-la.”
O abandono do socialismo e a perda do caráter militante das
organizações são as duas críticas mais duras do texto. “Ao abandonar as lutas de
enfrentamento, embora sigamos fazendo mobilizações, nossas lutas passaram a
servir para movimentar a massa dentro dos limites da ordem e para ampliar
projetos assistencialistas dos governos, legitimando-os e fortalecendo-os.
Agora o que as organizações necessitam é de administradores, técnicos e
burocratas; e não de militantes que exponham as contradições e impulsionem a
luta.”