domingo, 6 de novembro de 2011

O movimento estudantil pega fogo na Amazônia

Por Felipe Milanez*

Os professores da Universidade Federal de Rondônia (Unir) estão assustados. Desde a prisão do professor de história Valdir Aparecido de Sousa, em 21 de outubro, por policiais federais à paisana, em cenas de truculência que circularam em um vídeo na internet (ASSISTA), os professores grevistas evitam se expor. Sousa está solto, em liberdade provisória, mas precisa seguir uma série de determinações imposta pela Justiça, como não se reunir com os grevistas.

Segundo os policiais, ele era suspeito de ter jogado uma bomba durante a confusão (até agora, sem provas nem acusação formal). Junto do professor de história, foi levada uma câmera de outro professor, de biologia, que filmava e fotografava a confusão – algumas cenas mostram um dos policias com arma em punho em meio a estudante e professores. A câmera foi, depois, recuperada, mas o biólogo decidiu se afastar por um tempo da cidade de Porto Velho, temendo represálias.
A greve na Unir, que já dura cerca de dois meses, não tem data para acabar e deve virar o ano. As negociações estão emperradas. Alunos e professores estão unidos contra o reitor  José Januário de Oliveira Amaral. Alguns afirmam estar sendo seguidos pela cidade e sofrendo intimidações.
A reportagem falou com um dos professores do Comando de Greve, que pediu para não ser identificado. “Alguns professores tem procurado dormir em locais diferentes para não sofrer nem um atentado”, afirma. “O negócio aqui tá feio”.
O que está acontecendo na UNIR?
A Universidade Federal de Rondônia tem 29 anos e 7 campi. Segundo o professor grevista, sua história está marcada por intervenção e manutenção de um mesmo grupo no poder, o atual reitor está na reitoria há 9 anos, e sua gestão é marcada pela falta de pragmatismo e conselhos submissos aprovando sua decisões através de Ad referendum.

A partir disso, na visão dos grevistas, ele teria uma crise de confiança na Administração Superior, os professores que apoiam o Reitor são favorecidos, as verbas e vagas de docentes oriundas do REUNI são utilizadas através de manobras políticas para favorecer os amigos. Com isso a Universidade não se estruturou corretamente para executar a sua função, que é disponibilizar um acesso à educação de qualidade. Os professores necessitam comprar os equipamentos básicos para dar aula, e até brigar com colegas para ter acesso a uma sala de aula para lecionar.
Muitos professores, cansados de brigar por condições básicas de trabalho, saem da UNIR, ou passam em outro concurso, ou conseguem transferência por apresentarem problemas psicológico ou por sofrerem ameaças depois de denunciar as irregularidades no Ministério Público.
Para exemplificar os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia de Alimentos, Engenharia Florestal, Agronomia, Veterinária não abriram vagas no último vestibular por falta de salas de aula.
Outro problema é a Fundação de Apoio da Universidade, Fundação Riomar, que tem as suas contas bloqueadas e está sendo investigada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), mesmo o Reitor sabendo das denúncias de desvio não fez nada para sanar os problemas, e vários projetos de Professores da UNIR foram inviabilizados ou encerrados devido aos enormes desvios. Segundo a nota do Ministério Público existe a possibilidade do Januário estar envolvido.
Além disso, na última semana o laudo técnico do corpo de bombeiros diz que o campus de Porto Velho apresenta risco de vida aos alunos e professores.”
Quase dois meses
A universidade está em greve há 49 dias e o prédio da Reitoria está ocupado pelos estudantes há 28 dias.
As reivindicações básicas são: limpeza nos campi, contratação de professores e de técnico-administrativos, construção de laboratórios, construção de Restaurantes Universitários, Hospital Universitário, implantação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), transparência nas ações administrativas e prestação de contas sobre os recursos repassados para os projetos especiais como REUNI e FINEP.
E a principal é o afastamento do Reitor, já que, para os estudantes e funcionários, o mesmo não possui condições éticas nem administrativas de continuar no cargo, tampouco possui legitimidade entre os professores e alunos para continuar no cargo.
CartaCapital: Quais os entraves nas negociações?
Professor:
 Em 2008, na gestão anterior do atual Reitor, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no qual se comprometia em resolver os mesmos problemas que a UNIR sofre hoje.

Mesmo com as promessas de 2008, três anos depois os professores e alunos resolveram tentar negociar com o reitor, que respondeu aos comandos de greve que já tinham 95% das reivindicações resolvidas ou sendo resolvidas. Resolvemos então que só negociaríamos com o MEC e pedimos o afastamento imediato do José Januário do Amaral.
Porém mesmo com a vinda do Secretário do Ensino Superior, Professor Luiz Claúdio Costa, o MEC não concordou com o afastamento sem antes fazer um processo de sindicância, os Professores e alunos não concordam com a maneira que o MEC resolveu conduzir, pois acreditamos que as denúncias feitas no relatório de mais de 1.500 páginas que contém provas de improbidade administrativa, má gestão do recurso público, favorecimento de amigos, parentes e empresas, concurso públicos com nomeações irregulares e não comprimento das determinações feitas pelo Ministério Público, tudo isso cabe o afastamento imediato do reitor.
Hoje a população, os deputados federais, senadores, Assembleia Legislativa de Rondônia e outras organizações apoiam a greve, porém o atual Reitor diz que não se afasta e tem como apoiador direto o senador Valdir Raupp (presidente nacional do PMDB), dizendo que a melhor solução para o impasse seria os professores aceitarem o pedido de afastamento por férias de 30 dias e adiantamento da eleição para reitor para o final de 2012.

CC: Houve algum ato de violência ou que o comando de greve considera repressivo?
Professor:
 Nesses 50 dias de greve, ocorreram diversos atos de violência e intimidação. Oito deles listados abaixo.
O primeiro ato de violência ocorreu no dia 29 de setembro, logo depois da saída de representantes do comando de greve da entrevista dada ao Programa Rede de Opiniões da REDE TV RO, um carro não identificado jogaram bombas em direção dos grevistas.
O segundo ato de violência foi contra a um dos lideres do movimento estudantil que teve o vidro do seu carro quebrado e nada furtado durante uma manifestação no prédio da reitoria.
O terceiro ato: o Reitor não recebeu os alunos e professores durante assembleia que foi cancelada, a entrada do prédio ficou tomada de agentes da Policia Federal impedindo a entrada.
O quarto ato: membros do comando de greve estão sendo seguidos, nos seus percursos da casa a UNIR.
Um quinto ato de violência é a intimidação: alguns professores tem procurado dormir em locais diferentes para não sofrer nem um atentado.
Sexto ato: em 21 de outubro, um professor de História, Valdir Aparecido de Sousa, foi preso pela Polícia Federal de forma totalmente arbitrária, como foi mostrado num vídeo (ASSISTA AQUI)
Ainda, um sétimo ato documentado: em 24 de outubro, em uma coletiva, o reitor chamou os professores grevistas de vagabundos e os alunos de bandidos, e, por fim, o oitavo ato de retaliação: a Reitoria esse mês não irá pagar as bolsas dos alunos alegando que não puderam fazer a folha já que a reitoria está ocupada, porém o sistema é virtual é pode ser feito de qualquer computador.
CC: A universidade e a educação estão sendo beneficiadas pelos investimentos nas usinas do rio Madeira e o investimento no Estado?
Professor: As Usinas do Madeira tentaram e alguns laboratórios começaram a funcionar através da parceria feita pela UNIR e Usina de Santo Antônio e Jirau. Vários bolsistas, graduados e pesquisadores participam de atividade de pesquisa. Porém a Fundação Riomar, que seria a responsável de repassar as verbas, começou a desviar os recursos e muitos projetos foram suspensos devido à falta de recurso que não foram repassados.
O estado vem auxiliando através de emendas parlamentares, porém os recursos não foram destinados corretamente, como por exemplo o hotel escola criado em Guajará-Mirim que nunca funcionou.
 *Publicado originalmente no sítio da Carta Capital
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