quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ariovaldo Umbelino de Oliveira: compra de terras por estrangeiros é factóide de governos petistas


Desde o início do Século XX, as classes dominantes, particularmente os ruralistas, e os militares "deliciam-se" e "deliciam" parte da sociedade brasileira com esse debate. Muitos livros e textos já foram escritos, embates realizados nas universidades e fora delas. Ou seja, consumiram-se tempo e esforços para discutir uma questão que na realidade, de fato, nunca existiu. Certamente, muitos se lembraram da ideologia dos "Grandes Lagos Amazônicos" do Instituto Hudson do Mr. Hermann Kahn, na época da ditadura militar. Naqueles duros anos, isso levou, inclusive, à criação da CNDDA (Comissão Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento da Amazônia) liderada pelo geógrafo Orlando Valverde e muitos militares nacionalistas da reserva. Na realidade, jamais o governo militar de então teve a intenção de implantar aquele projeto, mas, deixou-o rolar na mídia como se de fato ele fosse acontecer. Foi uma comoção nacional, debates, textos, jornais, revistas, muito papel e esforços consumidos, mas, enquanto isso, a ditadura implantou o PIN - Programa de Integração Nacional, abrindo a Amazônia aos interesses do capital nacional e mundial. O Projeto Jari do multimilionário Daniel K. Ludwing foi implantado no vale do rio Jari na divisa do Pará e do Amapá com seus mais de 4,6 milhões de hectares divididos em dois imóveis registrados no Cadastro do INCRA como Jari Florestal e Agropecuária Ltda com
2.918.829 hectares e Cia Florestal Monte Dourado com 1.682.227 hectares. Em Almerim no Pará, o National Bulk Carriers obtinha do governo militar 1.250.000 hectares e a Georgia Pacific conseguia 400.000 hectares em Portel e Melgaço também no Pará. (OLIVEIRA, 1987; OLIVEIRA 1988, OLIVEIRA, 1997) Inclusive, a rede Globo veiculou na época o programa "Amaral Neto, o repórter", que de forma épica mostrava os feitos da ditadura na Amazônia como se fizessem a defesa da pátria. Dessa forma, enquanto os governos militares e a mídia informavam ao país que defendiam a Amazônia contra os interesses externos, internacionalizaram integralmente a economia brasileira e, logo, a Amazônia, sem precisar entregar um pedaço do país, como diria Armando Corrêa da Silva (1985), a um outro país imperialista, qualquer que fosse ele. Agora, em pleno Século XXI, o governo do Partido dos Trabalhadores – PT, resolveu reinventar "factóides" para divertirem a esquerda e, principalmente, os movimentos sócio-territoriais e sindicais.

A meu juízo, dois são os novos "factóides": a mudança dos índices de produtividades para definir a improdutividade ou não dos imóveis rurais pelo INCRA, e, a última e grande "jogada ideológica", ou seja, à aquisição de terras por estrangeiros no Brasil. Sobre o primeiro, penso que não é necessário lembrar, sobretudo, os companheiros e, de uns tempos para cá, os "novos camaradas", que jamais o governo vai alterar os índices de produtividades, mas, sempre nas reuniões com os movimentos sociais e sindicais dirão que vão alterá-los. Aliás, essa "história da carochinha" já voltou outra vez no governo atual do PT, sob a benção da "ideologia do cientificismo" da Embrapa.

Mas, o segundo "factóide", foi retirado do baú em uma ação conjunta MDA/INCRA, exatamente, por quem, na época tinha a obrigação legal e funcional de fazer cumprir a legislação em vigor e encaminhar à justiça aqueles que não há cumpriam, ou seja, o ex-presidente do INCRA Rolf Hackbart. Foi ele próprio que se incumbiu de noticiar ao país o "novo perigo internacional" aos pseudos e aos verdadeiros nacionalistas de última hora: à aquisição de terras por estrangeiros no Brasil.

Curiosamente, é a segunda vez que essa notícia vem a público, pois, a primeira vez foi em plena ditadura militar do final da década de 60, quando de fato, os órgãos públicos e os grileiros de terras públicas estavam vendendo a grupos estrangeiros, terras brasileiras em um total apurado de mais de 28 milhões de hectares, e, a maioria delas na Amazônia. É exatamente sobre essas duas histórias, uma verdadeira e a outra fabricada que esse texto tratará, pois, a memória neste país é sempre, propositalmente esquecida.

Leia todo o artigo do professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira para a Revista Agrária (USP) clicando em A QUESTÃO DA AQUISIÇÃO DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL - um retorno aos dossiês
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