O
presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou a anulação do contrato com a construtora
brasileira OAS para a construção de uma rodovia financiada pelo BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no centro do país.
A
medida ocorre em meio a uma dura disputa entre governo boliviano e a OAS por
conta de valores relativos aos trechos 1 e 3 da estrada. A oposição no país
alega superfaturamento da obra, e grupos indígenas querem impedir que ela
atravesse uma reserva natural.
A
rodovia que estava sendo construída pela OAS foi pivô de uma das piores crises
políticas do governo Morales. Com 306 km de extensão, ela é fruto de um acordo
costurado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2008. A OAS foi a
única participante da licitação, o que fez a oposição denunciar
superfaturamento.
A
estrada, orçada em US$ 415 milhões, tinha financiamento de US$ 332 milhões do
BNDES e ligaria os Departamentos (Estados) de Beni e Cochabamba. A maior
polêmica da obra envolve o seu trecho 2, central, que atravessa o Território
Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis).
Morales
autorizou a obra sem consultar os indígenas, que têm direito constitucional
sobre o parque. Descontentes, eles promoveram no ano passado uma marcha a La
Paz. Com amplo apoio popular, praticamente forçaram o presidente a assinar uma
lei que impede qualquer rodovia no Tipnis.
A
decisão desagradou cocaleiros e colonos agrícolas de Cochabamba, berço político
de Morales, que no início deste ano usou sua ampla base no Congresso para aprovar
uma lei de consulta sobre a execução ou não do trecho 2. Os indígenas marcaram
nova marcha de protesto para o final deste mês.
Sob
intensa pressão, o presidente endureceu nas últimas semanas o discurso contra a
OAS. A empresa pede US$ 197 milhões pelas obras efetuadas, enquanto o governo
oferece US$ 120 milhões. Para fontes próximas ao tema, a anulação do contrato
era questão de tempo.
Fonte: Valor Econômico