terça-feira, 3 de abril de 2012

Cachoeira pagou propina em troca de favor do Incra, diz PF


Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam que o grupo do empresário Carlos Cachoeira, denunciado por suspeita de comandar um esquema de exploração de jogos ilegais, negociou propina no Incra com o objetivo de regularizar uma fazenda.

Segundo relatório da PF da Operação Monte Carlo, datado de novembro passado, "são veementes os indícios da corrupção de servidores públicos em troca das liberações e assinaturas necessárias para regularização da área".

O relatório menciona valores e diz haver envolvimento do superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Distrito Federal, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, com o grupo de Cachoeira.

Segundo a polícia, foram pagos R$ 200 mil de propina para liberação do registro da fazenda, chamada Gama, nos arredores de Brasília, em abril do ano passado.

As gravações indicam que Cachoeira e o empresário Cláudio Abreu, um ex-diretor da Delta Construção e suspeito de integrar a quadrilha, compraram em dezembro de 2010 35% da fazenda -cerca de 4.000 hectares- por R$ 2 milhões.

O preço, considerado pela PF como abaixo do cobrado no mercado, é explicado pelo terreno estar em situação irregular, diz a polícia.

O objetivo da compra seria obter lucro com a revenda após a regularização - o que, na investigação, não fica claro se de fato ocorreu.

A PF afirma que o dinheiro veio de uma empresa usada pelo grupo de Cachoeira para lavagem de dinheiro.

"O valor pago pelo grupo é irrisório acaso a área venha ser registrada e regularizada", diz a PF, ao relatar o potencial de lucro do negócio.

"O motivo de negociar parte da área por valor tão baixo assenta-se no fato de 'quem' são as pessoas dos compradores e o que elas podem fazer para viabilizar a regularização da referida fazenda", completa a PF.

A regularização, dizem os investigadores, dependia de um registro do Incra chamado georreferenciamento -uma espécie de descrição do imóvel, com características e limites.

Depois das negociações, diz a polícia, o georreferenciamento foi feito em oito dias e emitido no dia 19 de abril de 2011 com a participação do dirigente do Incra no DF.

A apuração para aí, não avançando sobre o que ocorreu com o terreno depois.

Numa gravação telefônica do dia 25 de abril, Gleyb Cruz, braço direito de Cachoeira, disse que já havia informado o empresário do compromisso que teria sido assumido pelo superintendente do Incra.

"A gente tá com uma pessoa que pode estar alinhada, de peso (...), que é o superintendente do Incra", afirmou Cruz em ligação gravada com autorização judicial. "Tal pessoa foi identificada como Marco Aurélio Bezerra Rocha", registra a polícia.

De acordo com a investigação, houve até um calote durante as negociações.

"Era para [servidores do Incra] ter recebido 200, recebeu 80 só. Não, 80 não, 75. Porque teve que dar mais 5 para outro fazer um serviço não sei como é que é. Ficou com 75, de 200 ficou com 75 e o cabra [intermediário que fez o pagamento] não atende o telefone dele mais", afirmou um interlocutor identificado pela PF como "Baltazar", um dos vendedores da terra.

A polícia afirmou em seu relatório que "200" seriam provavelmente R$ 200 mil.

Superintendente nega relação com empresário
O superintendente do Incra no Distrito Federal, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, negou ter mantido relações com o grupo do empresário Carlinhos Cachoeira.

Ele afirmou que pretende solicitar a abertura de uma sindicância no órgão para apurar o caso.

Rocha disse que nunca teve reuniões com as pessoas citadas pela Polícia Federal nos relatórios da Operação Monte Carlo.

"Eles nunca foram atendidos no meu gabinete", afirmou Rocha.

Segundo ele, "o Incra vai tomar todas as providências para investigar isso."

O superintendente reconheceu que o registro foi concedido pelo Incra, mas afirmou que ele poderá ser cancelado.

Antes disso, ele promete fazer uma vistoria "in loco" na área da Fazenda Gama para analisar se a documentação da área foi liberada de forma regular.

Rocha argumentou também que seu nome pode ter sido usado por terceiros dentro da estrutura do Incra.

"Alguém pode ter vendido facilidades", afirmou.

Fonte: Folha
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