Deputado
escolhido como relator do Código Florestal modificou o documento a favor do
setor produtivo responsável por 40% do financiamento da sua campanha e irritou
os ambientalistas
Alvo das críticas de ambientalistas em razão das
mudanças promovidas na reforma do Código Florestal na semana passada, o
deputado Paulo Piau (PMDB-MG), relator da matéria que tramita na Câmara, contou
com uma colaboração dos empresários do agronegócio para se eleger. Mais de R$
990 mil — o que corresponde a 41,7% dos R$ 2.380.528 que declarou ter recebido
em doações — vieram de investidores que devem ter agradecido um documento menos
rigoroso. Depois de analisar o texto vindo do Senado, Piau alterou diversos
tópicos, entre eles, o que determinava uma extensão da área de preservação
permanente a ser recomposta por quem realizou desmatamentos em encostas e
beiras de rios.
Os cortes feitos por Piau colocaram em risco a
aprovação da matéria esta semana, como queriam a base aliada e os
ambientalistas. “O relatório do Piau é desastroso. Fragiliza a defesa e a
recuperação dos cursos d”água e matas ciliares, já pouco protegidas. Ainda
mantém as facilidades de créditos agrícolas ao agronegócio sem a exigência de
regularização ambiental em cinco anos e sepulta o artigo que estabelece a
reserva de vegetação por habitante de cidades. Liberou geral. A votação será
uma batalha”, prevê o deputado Chico Alencar (PSol-RJ).
A injeção de recursos provenientes de produtores
rurais — todos legais e devidamente registrados na Justiça — irrigou não só a
campanha de Piau, mas de boa parte da chamada bancada ruralista da Câmara. Mais
da metade do total de R$ 1.557.728,41 que o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS)
informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter recebido durante a campanha
de 2010 saiu das empresas do setor.
Outro agraciado com a generosidade dos executivos
do ramo foi o deputado Abelardo Lupion (DEM-PR). Só uma usina sucroalcooleira
doou R$ 250 mil ao então postulante à Câmara. Já com Moreira Mendes (PSD-RO),
que arrecadou R$ 1.136.062,95, segundo o TSE, os grupos ligados ao agronegócio
contribuíram com R$ 330 mil, enquanto 14% dos R$ 2.771.075,50 da campanha de
Ronaldo Caiado (DEM-GO) vieram de empresários do ramo.
Interesses
O deputado Heinze argumentou que se elegeu para
defender os interesses do setor agropecuário. Afirmou que tem compromissos com
os produtores rurais e que as empresas que contribuíram com a campanha
reconhecem o seu trabalho como parlamentar. Disse ainda que, se a legislação
atual for mantida, mais de 100 mil propriedades rurais podem ser obrigadas a
parar de produzir, segundo ele, a grande maioria composta por pequenos
produtores rurais, com áreas de até quatro módulos fiscais.
Caiado informou, por meio de assessoria, ser
“público e notório” que uma das suas linhas de atuação é em defesa do setor
produtivo brasileiro, e que “o Código Florestal vai dar garantias, principalmente,
aos pequenos e médios produtores brasileiros”. Piau, Lupion e Moreira Mendes
não retornaram as ligações da reportagem.
“É pública e notória a minha defesa ao setor
produtivo brasileiro. E o Código Florestal vai dar garantias, principalmente
aos pequenos e médios produtores” Ronaldo Caiado (DEM-GO),deputado federal
ligado à bancada ruralista
Fonte:
Correio Braziliense