quinta-feira, 5 de abril de 2012

Familiares do casal de extrativistas assassinado recebem intimidações no Pará


Laisa da Silva, irmã de Maria do Espírito Santo da Silva, extrativista assassinada em maio, durante premiação na ONU. Ela também recebe ameaças de morte. Foto: Felipe Milanez

Por Felipe Milanez*

Nas últimas semanas, as ameaças de morte contra Laisa Santos Sampaio se intensificaram no interior do Pará. Laisa é irmã de Maria do Espírito Santo da Silva, extrativista assassinada junto de seu marido, José Cláudio Ribeiro da Silva, por dois pistoleiros em uma emboscada quando deixavam o assentamento Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna (PA), em maio de 2011.
Menos de um ano depois do crime, Laisa continua a viver no assentamento onde os dois foram mortos, e declara receber ameaças da mesma família que encomendou e executou o assassinato do casal. Os familiares continuam residindo no lote que era reivindicado por José Rodrigues, apontado como mandante do crime, e que foi objeto das denuncias de grilagem de terra pelo casal de ambientalistas.
O último “recado” ocorreu na sexta-feira 30 de março, com dois tiros no inicio da noite. Um, vindo da casa de Zé Cláudio e Maria (em frente à casa de Laisa), outro, na porta da sua casa. Mas as ameaças tem sido constantes, através de recados e intimidações: mensagens para os filhos, aviso para amigos, tiros no cachorro.
Zé Cláudio e Maria, quando sofreram a emboscada, não tinham nenhum tipo de proteção, apesar de denunciarem crimes que estavam ocorrendo no assentamento e sofrerem ameaças constantes. A omissão do Estado pode provocar, nesse caso, mais uma vítima. Tanto da União, que através do Incra, órgão responsável pelo assentamento, não investiga denúncias de grilagens e aceita a posse ilegal das pessoas que são acusadas dos assassinato do casal. Como a área não foi titulada e pertence à União, é também competência da Polícia Federal investigar os conflitos. Quanto estadual, que não confere proteção policial solicitada pela vítima. Pelo estado do Pará, foi oferecida à Laisa o tipo de proteção a “testemunha”, pela qual ela deveria mudar de cidade com a família. Nem na esfera estadual, nem federal, as ameaças resultaram em punição aos ameaçadores.
“Está muito difícil a nossa situação. A pressão e as ameaças estão muito grande, toda a hora, estamos com muito medo”, disse, por telefone José Maria Gomes Sampaio, o “Zé Rondon”, marido de Laisa. “Parece que as pessoas aqui tem medo da gente, olham como se algo vai acontecer em breve”, diz. “Eu tô com muito medo.” Após o atentado na sexta-feira, Laisa ligou para a delegacia civil de Marabá para prestar depoimento. Laisa retornou para a delegacia na segunda-feira 2, e agora diz estar sem segurança para sair do assentamento onde vive: “o perigo aqui é o caminho, a estrada, o deslocamento, onde pode ocorrer uma emboscada”, disse.
Na terça-feira 3, José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi até Brasília cobrar do governo uma reposta às seguidas promessas de conferir segurança à Laisa. Ele teve um encontro com coordenadora nacional de defensores de direitos humanos – responsável por proteger pessoas ameaçadas de morte. No dia 7 de fevereiro Laisa foi recebida por Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. A reunião foi gravada e, em vídeo disponível na internet, ele fala em “tomar uma atitude” para resolver o caso de Laisa:

No dia seguinte à reunião com o ministro, Laisa foi para a ONU, em Nova York, onde recebeu o prêmio especial Heróis da Floresta, em homenagem a sua irmã e seu cunhado, assassinados no ano definido pela ONU como “Ano Internacional das Florestas”. Em Nova York, Laisa denunciou a situação em que vive, de tensão e ameaças.

Sobre o último atentado, ao delegado a filha de Laisa disse: “que há aproximadamente um mês, uma colega no colégio, filha de uma agente de saúde comentou que era perigoso a mãe da declarante andar pelo local de motocicleta, assim como também residir  no local, e ao perguntar porque teria feito tal afirmação, a coleguinha do colégio não soube responder”. Laisa é professora na escola municipal de primeiro grau, e diz receber, dos filhos de outros assentados, “recados”. Entre seus alunos, está a sobrinha do acusado de ter encomendado a morte do casal: José Rodrigues.
Ao delegado Victor Leal foi também contado o contexto em que se dá as ameaças. O detalhamento se faz importante pois a policia civil do Pará dizia nunca ter sido informada das ameaças contra o casal Zé Cláudio e Maria – que constavam na lista de ameaçados de morte da CPT, seja ele, seja ela, desde 2001.
*Fonte: CartaCapital
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