Escolta
retira a líder rural que protegia e se retira do local do conflito ao descobrir
plano de emboscada. Anistia Internacional lança campanha pedindo medidas
urgentes
Depois de passar cinco meses protegendo Nilcilene Miguel de
Lima, a equipe da Força de Segurança Nacional se retirou da região do conflito
entre madeireiros e lavradores no município de Lábrea, ao sul do Amazonas. A
líder rural Nilcilene, ameaçada de morte por denunciar o desmatamento, foi
retirada de sua casa por sua escolta e levada para local mantido em sigilo pela
força policial do governo federal.
A decisão foi tomada depois que as
ameaças se voltaram contra a própria Força Nacional. “Eles descobriram que os
pistoleiros estavam armando uma emboscada para matar Nilcilene e os policiais
da escolta”, diz Francisneide Lourenço, coordenadora da Comissão Pastoral da
Terra do Amazonas. Desde que foi removida de sua casa, Nilcilene perdeu contato
com as famílias de sua comunidade, que também estão recebendo ameaças, e não
pode dar entrevistas.
Em resposta ao recuo das forças do
governo, a Anistia Internacional lançou uma “ação urgente” pedindo providências
imediatas ao Ministério da Justiça e governo do Amazonas. A ação é uma campanha
internacional que convida os milhares de membros da Anistia no mundo
todo a escrever cartas ao governo brasileiro.
A Anistia pede que o governo federal
aja para coibir as atividades ilegais de desmatamento e grilagem de terra na região,
de modo a preservar a atividade extrativista da população local. E reivindica
uma unidade de polícia permanente para o sul de Lábrea e, também, que as
ameaças e agressões feitas contra a comunidade sejam investigadas.
“Temos notado que, para o governo, é
muito bonito colocar um grupo da Força Nacional por alguns meses no local do
conflito. Mas isso não muda nada”, diz Tim Cahill, da Anistia Internacional.
“Os crimes devem ser investigados e o local precisa de proteção imediata e
permanente”.
Há cerca de 800 famílias vivendo no
sul de Lábrea, onde não há energia, telefone ou delegacia. São lavradores, seringueiros
e catadores de castanha cadastrados no programa Terra Legal ou moradores dos
assentamentos Gedeão e o Curuquetê – cujo líder Adelino Ramos foi assassinado
em 2011.
A reportagem de Pública fez uma série
de reportagens sobre a violência na região em março desse ano. Uma delas revela
que, em pelo menos outras duas ocasiões, o governo federal recuou quando
confrontado pelo poder local. Uma funcionária federal já foi agredida pelos
pistoleiros e duas coordenadoras de órgãos fundiários sofreram ameaças de morte.
*Publicado também na Rede Brasil Atual.