Foto: Bruna Homrich |
Juntamente com Chico Mendes e outros tantos seringueiros,
Osmarino Amâncio, se coloca entre aqueles que, conseguindo escapar dos
assassinatos encomendados pelos latifundiários, especialmente no período entre
os anos 70 e 80, insiste em viver em meio à floresta acreana. Osmarino, que
participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, mora
em mil hectares de floresta sem qualquer tipo de escritura, por um entendimento
de que a relação com a natureza não deve estar vinculada a uma ideia de
propriedade privada.
Em 54 anos de vida, ele se orgulha ao afirmar que apenas derrubou 9 hectares do total existente, sendo que essa ação foi visou à subsistência. Se nos anos 70 e 80, os seringueiros resistiram ao avanço dos projetos que colocavam os grandes fazendeiros como colonizadores da região amazônica, hoje o desafio é bem mais forte. Segurar o avanço dos chamados megaprojetos, que não apenas devastam florestas, mas também os rios, através da construção de hidrelétricas, agronegócio, etc.
Osmarino falou sobre sua experiência de vida, suas relações com a política, com o ex-presidente Lula, com a senadora Marina Silva, em mais de duas horas, para cerca de 90 pessoas, durante o Cultura na Sedufsm (Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Santa Maria), que aconteceu nesta segunda, 23, e teve como tema “Reforma agrária e meio ambiente”. O evento, em sua 52ª edição, teve a coordenação do professor do departamento de Direito da UFSM, Luiz Ernani Araújo e foi realizado em parceria com o Sindicato dos Previdenciários do Rio Grande do Sul (Sindsprev).
O líder seringueiro, um dos responsáveis no final dos anos 80, pela negociação, em pleno governo de José Sarney, da criação da reserva extrativista acreana, se emocionou ao lembrar do amigo Chico Mendes, morto assim como mais de uma centena de trabalhadores dos seringais no confronto com jagunços a serviço dos latifundiários da região.
Na década de 70, os fazendeiros, organizados através de uma entidade de extrema direita que recebeu o nome de União Democrática Ruralista (UDR), implantaram um regime de terror contra os seringueiros e moradores da região. Eles concediam prazo para que os trabalhadores se retirassem e incendiavam as casas com tudo que tivesse dentro.
Para resistir a isso, os sindicatos, sejam em Brasiléia ou em Xapuri, partiram para a resistência naquilo que eles chamavam de “empate”. Ou seja, se era difícil vencer a disputa, empatar, numa metáfora futebolística, para eles, significava não ser derrotado.
Empate
Foram três meses de ‘empate’ e quem acabou por intermediar os confrontos foi o Exército. A tática do empate, explica Osmarino, acabou se generalizando por todo o Acre e levou à criação da reserva extrativista que até hoje garante a sobrevivência dos seringueiros. Contudo, diz ele, não apenas os grandes projetos são ameaças, mas também decisões tomadas no governo Lula.
O seringueiro avalia a ministra do Meio Ambiente do governo Lula, também oriunda das lutas do Acre, como uma espécie de “traidora” do movimento. Foi dela a ideia que levou à criação da Lei de Florestas Públicas, que permite a exploração de florestas públicas por empresas privadas, sem que o Estado perca a posse da área. Osmarino critica também o que considera uma submissão do governo aos produtos transgênicos. “A Marina não teve coragem de peitar a Monsanto”, destacou.
Para Osmarino, o que está acontecendo é uma tentativa de emparedar os seringueiros. Segundo ele, o governo está proibindo que façam a queima de qualquer madeira ou mesmo que se utilizem da caça no espaço da reserva extrativista. No entendimento dele, a ação dos seringueiros está sendo criminalizada e, em troca dessa renúncia a um modelo que existiu e funcionou até hoje, o governo propõe a ‘bolsa floresta’, que já foi apelidada de “pochete miséria”, pois os 100 reais por mês significarão uma condenação a todos os trabalhadores à pobreza. Na avaliação do líder seringueiro, esse tipo de política visa a retirá-los do caminho e liberar a floresta para os grandes negócios.
A lição deixada por Osmarino, que, mesmo sendo um autodidata, já viajou por diversos países, palestrando inclusive para alunos da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), é de alguém que luta por ideias e princípios. Chegou a ser convidado por Lula, recém eleito presidente, para ocupar um cargo no governo federal, mas depois de muita negociação, em 2005, acabou recusando em função do escândalo do mensalão.
Vivendo em uma casa, no meio da floresta, sem água ou energia elétrica, Osmarino vai à cidade esporadicamente. Devido à sua militância em defesa do ambiente, amealhou apoios importantes no meio universitário. Lá, seus apoiadores fizeram inclusive um e-mail e um blog para ele. Apesar de reconhecer a importância da internet, o seringueiro tem sua concepção clássica: “É preciso por o pé no barro, pela internet não vamos fazer mudanças”, sentencia Osmarino Amâncio, já pronto para novos “empates” na Floresta Amazônica.
Fonte: Sedufsm - Seção Sindical via Andes-SN
Em 54 anos de vida, ele se orgulha ao afirmar que apenas derrubou 9 hectares do total existente, sendo que essa ação foi visou à subsistência. Se nos anos 70 e 80, os seringueiros resistiram ao avanço dos projetos que colocavam os grandes fazendeiros como colonizadores da região amazônica, hoje o desafio é bem mais forte. Segurar o avanço dos chamados megaprojetos, que não apenas devastam florestas, mas também os rios, através da construção de hidrelétricas, agronegócio, etc.
Osmarino falou sobre sua experiência de vida, suas relações com a política, com o ex-presidente Lula, com a senadora Marina Silva, em mais de duas horas, para cerca de 90 pessoas, durante o Cultura na Sedufsm (Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Santa Maria), que aconteceu nesta segunda, 23, e teve como tema “Reforma agrária e meio ambiente”. O evento, em sua 52ª edição, teve a coordenação do professor do departamento de Direito da UFSM, Luiz Ernani Araújo e foi realizado em parceria com o Sindicato dos Previdenciários do Rio Grande do Sul (Sindsprev).
O líder seringueiro, um dos responsáveis no final dos anos 80, pela negociação, em pleno governo de José Sarney, da criação da reserva extrativista acreana, se emocionou ao lembrar do amigo Chico Mendes, morto assim como mais de uma centena de trabalhadores dos seringais no confronto com jagunços a serviço dos latifundiários da região.
Na década de 70, os fazendeiros, organizados através de uma entidade de extrema direita que recebeu o nome de União Democrática Ruralista (UDR), implantaram um regime de terror contra os seringueiros e moradores da região. Eles concediam prazo para que os trabalhadores se retirassem e incendiavam as casas com tudo que tivesse dentro.
Para resistir a isso, os sindicatos, sejam em Brasiléia ou em Xapuri, partiram para a resistência naquilo que eles chamavam de “empate”. Ou seja, se era difícil vencer a disputa, empatar, numa metáfora futebolística, para eles, significava não ser derrotado.
Empate
Foram três meses de ‘empate’ e quem acabou por intermediar os confrontos foi o Exército. A tática do empate, explica Osmarino, acabou se generalizando por todo o Acre e levou à criação da reserva extrativista que até hoje garante a sobrevivência dos seringueiros. Contudo, diz ele, não apenas os grandes projetos são ameaças, mas também decisões tomadas no governo Lula.
O seringueiro avalia a ministra do Meio Ambiente do governo Lula, também oriunda das lutas do Acre, como uma espécie de “traidora” do movimento. Foi dela a ideia que levou à criação da Lei de Florestas Públicas, que permite a exploração de florestas públicas por empresas privadas, sem que o Estado perca a posse da área. Osmarino critica também o que considera uma submissão do governo aos produtos transgênicos. “A Marina não teve coragem de peitar a Monsanto”, destacou.
Para Osmarino, o que está acontecendo é uma tentativa de emparedar os seringueiros. Segundo ele, o governo está proibindo que façam a queima de qualquer madeira ou mesmo que se utilizem da caça no espaço da reserva extrativista. No entendimento dele, a ação dos seringueiros está sendo criminalizada e, em troca dessa renúncia a um modelo que existiu e funcionou até hoje, o governo propõe a ‘bolsa floresta’, que já foi apelidada de “pochete miséria”, pois os 100 reais por mês significarão uma condenação a todos os trabalhadores à pobreza. Na avaliação do líder seringueiro, esse tipo de política visa a retirá-los do caminho e liberar a floresta para os grandes negócios.
A lição deixada por Osmarino, que, mesmo sendo um autodidata, já viajou por diversos países, palestrando inclusive para alunos da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), é de alguém que luta por ideias e princípios. Chegou a ser convidado por Lula, recém eleito presidente, para ocupar um cargo no governo federal, mas depois de muita negociação, em 2005, acabou recusando em função do escândalo do mensalão.
Vivendo em uma casa, no meio da floresta, sem água ou energia elétrica, Osmarino vai à cidade esporadicamente. Devido à sua militância em defesa do ambiente, amealhou apoios importantes no meio universitário. Lá, seus apoiadores fizeram inclusive um e-mail e um blog para ele. Apesar de reconhecer a importância da internet, o seringueiro tem sua concepção clássica: “É preciso por o pé no barro, pela internet não vamos fazer mudanças”, sentencia Osmarino Amâncio, já pronto para novos “empates” na Floresta Amazônica.
Fonte: Sedufsm - Seção Sindical via Andes-SN