O diretor-geral da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, chamou hoje (11/03/2013) a equipe de redação e anunciou que a empresa está demitindo todos os trabalhadores que se encontravam em greve desde sexta-feira, dia 08/03, alegando "quebra de confiança".
Nós, integrantes da equipe
de redação da revista Caros Amigos - responsáveis diretos pela publicação da
edição mensal, o site Caros Amigos, as edições especiais e encartes da Editora
Casa Amarela - lamentamos a decisão da Direção. Consideramos a precarização do
trabalho e a atitude unilateral como passos para trás no fortalecimento do
projeto editorial da revista, que sempre se colocou como uma publicação
independente, de jornalismo crítico e de qualidade, apoiando por diversas
vezes, inclusive, a luta de trabalhadores de outras áreas contra a precarização
no mercado de trabalho.
A greve é um instrumento
legal, previsto na Constituição brasileira e direito de todos os trabalhadores.
Foi adotada como medida para tentar melhorar as condições de trabalho na
revista e foi precedida por uma série de incansáveis diálogos por parte desta
equipe, desde que ela começou a ser montada em 2009. As tentativas foram sempre
no sentido de atingir o piso salarial para todos os profissionais, encerrar os
atrasos no pagamento dos salários e direitos como férias e 13º, que nos atingiram
por mais de uma vez, de conquistar o registro dos funcionários fixos e uma
melhor relação com colaboradores freelancers, que também convivem e conviveram
com baixas remunerações e atrasos nos pagamentos.
Diante de alegações por
parte da direção sobre dificuldades financeiras vividas pela empresa por se
tratar de uma publicação alternativa, convivemos com salários mais baixos que
os pisos e os praticados pelo mercado, e também com a inexistência de muitos
direitos trabalhistas. Aceitamos negociar gradativamente a correção desses
problemas de forma a fazer com que a Caros Amigos, "a primeira à
esquerda", não se tornasse agente de exploração de seus funcionários e
avançasse nessa frente conforme suas possibilidades. Trabalhamos para ampliar a
receita da empresa, seja pelo prestígio do trabalho realizado, muitas vezes
premiado, seja pelo aumento do trabalho em forma de outras publicações como
especiais e encartes.
Em todos os anos entre 2009
e 2013, mantivemos o diálogo salutar com a Direção, buscando negociar melhores
condições para desenvolvermos o trabalho com o qual estávamos comprometidos.
Isso foi feito por meio de cartas de toda a redação à direção, conversas de
comissões da redação com a direção e inúmeras negociações entre o editor-chefe
e diretor-geral.
Apesar de todos nossos
esforços em construir uma boa relação interna, fomos pegos de surpresa com o
anúncio de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da
equipe ou redução do salário dos 11 funcionários de 32 mil pra 16 mil ao todo,
conforme relatado em nota divulgada na data de anúncio da greve e que segue
novamente ao final desta.
O anúncio de medida drástica
que atinge diretamente os trabalhadores foi feito em forma de comunicado pelo
diretor-geral, sem margem para negociação. Ainda buscamos pelo diálogo reverter
o problema junto à direção por uma semana. Sem margem para conversa, recorremos
à paralisação como forma de ampliarmos nossas vozes, mas fomos surpreendidos
mais uma vez com o comunicado da demissão coletiva.
Nossa luta não é - e nunca
foi - contra a revista Caros Amigos. Pelo contrario, reforçamos a importância
de publicações contra-hegemônicas e críticas em um cenário difícil para a
democratização da comunicação no Brasil, que cerceia a variedade de vozes.
Nossa luta é, portanto, para o fortalecimento e a coerência de um veículo
fundamental do qual sempre tivemos o maior orgulho de participar.
Vimos a público lamentar
profundamente que essa crise provocada pela direção venha causar sérios
prejuízos ao projeto editorial da Caros Amigos, que contou por todos esses anos
com nossa dedicação.
Saímos desse espaço de forma
digna diante de uma situação que tornou a greve inevitável, na esperança que
nossos apelos sirvam de acúmulo para o futuro da Caros Amigos de modo que ela
se torne exemplo não só no campo editorial, mas nas relações que mantém com
seus funcionários e colaboradores. Esperamos que o compromisso assumido com
colaboradores durante a gestão dessa equipe seja louvado e que eles recebam
seus pagamentos sem atrasos. Também que sejam honrados nossos diretos
trabalhistas.
Agradecemos todos que se
solidarizaram com nossa situação e os que seguirão nos apoiando nessa nova
etapa. Esperamos que esta experiência sirva de acúmulo e motivo de debate sobre
a precarização, o achatamento de salários, a piora nas condições de trabalho e
atitudes patronais - que existem tanto em empresas da grande imprensa quanto
nas da contra-hegemônica - no sentido de buscarmos melhores condições para
todos exercerem suas profissões. Por fim, esperamos que o exemplo comece pela
imprensa contra-hegemônica com a correção de práticas como esta.
São Paulo, 11 de março de
2013.
01 - Alexandre Bazzan
02 - Caio Zinet
03 - Cecília Luedemann
04 - Débora Prado
05 - Eliane Parmezani
06 - Gabriela Moncau
07 - Gilberto Breyne
08 - Hamilton Octavio de
Souza
09 - Otávio Nagoya
10 – Paula Salati
11 - Ricardo Palamartchuk