Tropas da Companhia de Operações Ambientais da Força
Nacional de Segurança Pública estão posicionadas em Itaituba preparadas
para a execução da Operação Tapajós. Conforme informações dos indígenas, os
soldados e agentes deverão desembarcar em aldeia Munduruku nesta
quinta-feira, 28, para garantir realização dos estudos de impacto do Complexo
Hidrelétrico do Tapajós, no Pará.
A denúncia foi feita pela Associação Indígena Pusuru, em
carta divulgada nesta quarta-feira, 27. Os indígenas relatam que foram
informados, em reunião com a Fundação Nacional do Índio (Funai), em Itaituba,
que um grupo de 60 homens da Força Nacional irá para a aldeia Sawre Muybu,
também em Itaituba.
No documento, os Munduruku denunciam o governo, que ”vem
mandando seu exército assassino para nos ameaçar e invadir nossas aldeias” e
temem um novo massacre, “porque há 4 meses atrás numa operação chamada Eldorado
foi morto um parente e vários ficaram feridos inclusive crianças, jovens e
idosos”.
Cerca de 250 homens fortemente armados estão posicionados em
Itaituba para a realização da Operação Tapajós. Agentes da Polícia Federal,
Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Força Aérea foi deslocado para as
proximidades da Terra Indígena Munduruku com o objetivo de realizar – à força –
o estudo integrado de impactos ambientais para a construção do chamado Complexo
Hidrelétrico do Tapajós.
O Ministério Público Federal pediu à Justiça Federal em Santarém
que impedisse a realização de uma operação policial do governo federal, porque
o licenciamento ambiental da usina está suspenso pela mesma Justiça por falta
das consultas prévias aos índios. Porém, o juiz
Federal indeferiu o pedido. Valendo-se do feriado prolongado da Semana
Santa, tradicionalmente maior para o Poder Judiciário, o governo federal
desenvolve a operação de guerra.
Leia carta na íntegra:
CARTA DO POVO MUNDURUKU
Nós! Caciques, lideranças e guerreiros do povo Munduruku sempre
lutamos e continuaremos lutando em defesa de nossas florestas, nossos rios, e
de nosso território pois é de nossa mãe natureza que tiramos tudo que
precisamos para sobreviver, mas o governo que devia nos proteger, vem mandando
seu exército assassino para nos ameaçar e invadir nossas aldeias, ultimamente nosso
povo vem sendo desrespeitado, vem sendo ameaçado por um governo
ditador que vem ameaçando e matando nosso povo, usando suas forças
armadas como se os povos indígenas fossem terroristas ou bandidos.
Nós, povo Munduruku, repudiamos essa maneira ditadora da
presidenta que governa o País. Não aceitamos que policias entrem em nossas
terras sem a nossa autorização para qualquer tipo de operação. É um povo
especial! Um povo que já existia muito antes deles chegarem aqui, nessa terra
onde chamam de Brasil. Brasil é a nossa terra! Somos nós os verdadeiros
brasileiros.
Essa semana o governo brasileiro mandou 250 policiais para
garantir a força os estudos das hidrelétricas nas nossas terras.
Hoje pela manhã foi decidido na sede da FUNAI em ITAITUBA que 60
homens da Força Nacional irão para a Aldeia sawre muybu, cumprir o decreto
expedido pela Presidenta da Republica do dia 12 de março; é uma Aldeia com 132
Indígenas. Estamos muitos preocupados porque há 4 meses atrás numa operação
chamada Eldorado foi morto um parente e vários ficaram feridos inclusive
crianças, jovens e idosos, na Aldeia Teles Pires.
O governo marcou uma reunião para dia 10 de abril para falar
dessa operação. Mas uma vez esse governo está quebrando acordo com o povo
Munduruku, por isso não queremos mais reunir com esse governo até que ele pare
com essa ação contra a decisão do nosso povo. Pedimos a ajuda do Ministério
Publico Federal, para nos ajudar a resolver esses problemas sem que haja mais
mortes. Pois não ficaremos de braços cruzados vendo tamanho desrespeito com
nosso povo e nosso território.
Povo Munduruku
Jacareacanga, 27 de março de 2013
Fonte: Cimi
Versão em inglês*
We!
Caciques, leaders and warriors of the Munduruku people have always struggled
and will continue to struggle in defense of our forests, our rivers and our
territories, because everything that we need to survive we get from Mother
Nature. But the government, who should protect us, is sending its army of
assassins to threaten us and to invade our villages, recently our people have
been disrespected, threatened by a dictatorial government who has been
threatening and killing our people, using armed force against us as if we
indigenous people were terrorists or bandits.
We the Munduruku people repudiate the dictatorial
manner of this country’s president. We do not accept that police enter,
unauthorized, onto our lands for whatever operation they want to carry out. We
are a special people! a people who existed long before they arrived in this
land that they call Brazil. Brazil is our land! We are the true Brazilians.
This week the Brazilian government sent 250 police
to enforce the implementation of studies to build hydroelectric dams on our
lands.
This morning at the FUNAI headquarters in
ITAITUBA, it was decided that 60 men from the National Force would go to the
Sawre Muybu indigenous village to comply with the decree expedited by the
President of the Republic on March 12; Sawre Muybu is a village of 132
indigenous people. We are very concerned because four months ago during another
one of their operations called Eldorado one of our relatives was killed and
many others were injured, including children, young people, and elderly people
in the village of Teles Piras.
The government scheduled a meeting for April 10th
to speak about this operation. Once again, the government is breaking its
agreement with the Munduruku people, so we do not want to meet with this
government until it stops this action against the will of our people. We are
asking the Federal Public Ministry to help us resolve these problems without
further deaths. Because we will not remain with our arms crossed watching
disrespect of this magnitude of our people and our territory.
Jacareacanga, 27 de março de 2013
*Tradução feita
pela leitora Brenda