Ao
menos 273 haitianos que tentam migrar para o Brasil estão acampados, desde
janeiro, na cidade peruana de Iñapari, que tem cerca de 1.500 habitantes e faz
fronteira com o município de Assis Brasil, no Acre. A espera já dura 77 dias.
Eles
estavam a caminho do Brasil quando, no dia 12 de janeiro, o governo anunciou
que o fluxo de haitianos ao país seria regularizado. Pela resolução nº 97/2012,
do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), ficou definido que a Embaixada do
Brasil no Haiti passaria a conceder 100 vistos de trabalho ao mês para
haitianos que quisessem morar no país.
Paralelamente,
a Polícia Federal passou a impedir a entrada de haitianos sem vistos. Como
saíram do seu país sem a permissão e viajam sem o visto, os 273 haitianos passaram
a viver na cidade de Iñapari. Para chegar à fronteira, o grupo enfrentou uma
viagem que passou pela República Dominicana, pelo Panamá e pelo Equador.
“Não
sabia que a fronteira estava fechada, achei que a cruzaria no mesmo dia”, disse
Saint Germain Guerbem, de 24 anos. “Gastei todo o meu dinheiro na viagem e,
mesmo que quisesse, não teria condições de voltar ao Haiti”. Guerbem, que
queria chegar a São Paulo, tem dormido no coreto da praça central de Iñapari
com dezenas de compatriotas, em sua grande maioria homens.
No
grupo há também mulheres e crianças, que foram alojadas por moradores locais em
suas casas ou em armazéns. Os restantes dormem espalhados pela cidade, sob
qualquer cobertura que os proteja das frequentes chuvas, que inundaram Iñapari
há duas semanas.
“Peço
que os brasileiros nos ajudem a entrar, porque não podemos aguentar mais”,
disse o pedreiro haitiano Facius Etienne, que foi escolhido líder do grupo.
Segundo ele, as autoridades peruanas prometeram interceder ao governo
brasileiro.
De
acordo com Etienne, o grupo é formado por profissionais qualificados, como
carpinteiros, eletricistas e torneiros mecânicos. Na expectativa de entrar,
muitos estão fazendo aulas de português com uma professora voluntária de Assis
Brasil.
A
Embaixada do Brasil em Porto Príncipe informou que a procura de haitianos
interessados em obter o visto é grande, mas exigências burocráticas barram uma
maior concessão de permissões.
Para
se candidatar à permissão, o interessado deve ter passaporte em dia, ser
residente no Haiti (o que deve ser comprovado por atestado de residência) e
apresentar atestado de bons antecedentes. Com todos os documentos em mãos, deve
ainda pagar US$ 200 para a emissão do visto.