Por
Ruy Sposati*
Sebastião
estava colhendo cacau quando cerca de 20 tratores entraram na plantação, já
derrubando as árvores. Ao se aproximar, percebeu que havia diversos homens
armados à frente dos tratores.
O
agricultor Sebastião Pereira, que desde segunda-feira, 27, estava desaparecido,
voltou hoje [02 de março] à casa da família em Altamira. Ele passa bem. A propriedade de seu
Sebastião, um dos vários produtores de cacau da Volta Grande do Xingu na região
de Altamira, foi desapropriada pela Norte Energia em 2011 e incorporada à área
do canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte conhecido como Sitio
Pimental. Apesar de ter destruído sua casa assim que foi decretada a
desapropriação, a empresa ainda não pagou o valor da indenização à família.
De acordo
com seu Sebastião – que, em função do não pagamento da terra e das lavouras,
resolveu continuar trabalhando na área -, na última segunda, quando voltou à
propriedade, ele foi impedido de entrar.
Depois de
ter sido ameaçado por seguranças do canteiro, Sebastião decidiu atravessar a
mata fechada e conseguiu chegar até a plantação de cacau, onde trabalhou até
quarta-feira. Ele repete o diálogo que havia sido descrito a familiares, que
foram a sua procura nesta quinta, por um funcionário não-identificado do
consórcio, onde um dos seguranças teria dito a ele que ele sairia morto do
lote, caso decidisse entrar.
Segundo
Sebastião, neste dia, ele estava colhendo cacau, quando cerca de 20 tratores
entraram na plantação, já derrubando as árvores. O agricultor ouvia os sons das
máquinas, de longe. Ao se aproximar, percebeu que, na linha de frente dos
tratores, havia diversos homens armados que Sebastião não conseguiu identificar
se eram policiais fardados ou seguranças particulares. “Eles vieram pra cima de
mim, os cabras armados, com os tratores atrás. Aí eu tive que correr. O que que
eu ia fazer? Ia enfrentar aquele bocado de gente, pra me matarem lá dentro?”
Sebastião
relata que fugiu dos homens armados e foi para a mata, onde se escondeu até
que, na quinta-feira de noite, foi a pé até a Rodovia Transamazônica, onde
pegou carona para Altamira. Chegou na cidade às duas horas da tarde de sexta,
2.
“Eu
voltei escondido. Mas eu vou voltar pra lá. Derrubaram o cacau, então eu vou
colher castanha. Eu vou viver é daquilo lá, não é de conversa fiada, enquanto
não me indenizarem”, conclui.
Fonte: Xingu Vivo Vídeo: Daniel Carezzato e Ruy Sposati