A
condenação prévia de Thor nas redes sociais e nas conversas de bar deve-se não
apenas à raiva que parte da população teria dos ricos e poderosos, ou à
tendência de se colocar ao lado dos mais fracos, mas também à percepção
legítima de que os atos criminosos dos ricos e poderosos permanecem impunes. A
pressa em acusar e condenar Thor não demonstra apenas histeria ou
irresponsabilidade das “massas”, ou mesmo “inveja”, como chegou a ser dito, mas
a ansiedade de fazer uma justiça que temem, com todas as razões históricas e
objetivas para isso, que não seja feita por quem tem o dever constitucional de
fazê-la. Seria, nesse sentido, uma espécie de antecipação e compensação pela
justiça que não acreditam que aconteça. E aqui me limito a analisar o fenômeno
– e não a defendê-lo.
Quem
é Thor, o filho de Eike Batista? Seu perfil é fascinante e quase obrigatório
para compreender o Brasil atual. Basta procurar no Google para encontrar pelo
menos uma matéria exemplar sobre sua vida, seus hábitos e seus pensamentos.
Aqui, vou me deter apenas em quem é Thor como motorista. Em seu prontuário no
Detran constam 51 pontos e 11 multas, parte delas causada por excesso de
velocidade. Thor deveria ter perdido a carteira de habilitação por isso, mas
não a perdeu. Se a tivesse perdido, como determina a lei, talvez não estivesse
dirigindo na noite daquele sábado, e Wanderson possivelmente não estaria morto.
Thor ama carros, velocidade e potência. Como declarou em uma entrevista
anterior ao acidente, ele já teve um Aston Martin: “Trouxe de São Paulo e fiz
280 quilômetros por hora na Dutra”.