O caso da empresa “Celestial Green Ventures” já denunciado aqui no blog ano passado voltou à tona esta semana com uma extensa reportagem da Agência Pública
“O vídeo
promocional da
empresa Celestial Green Ventures – “verde celestial”, em português – traz imagens
de uma reunião em uma localidade não identificada, na Amazônia. Em meio a
fotos, com fundo musical, o irlandês Ciaran Kelly, CEO, explica: “Nós sentamos
com a comunidade local, há uma discussão muito aberta, dizemos o que temos que
fazer, quais são as suas responsabilidades e as nossas. Se concordamos,
prosseguimos”.
O português
João Borges de Andrade, chefe de operações no Brasil, aparece em fotos rodeado
pela população local. “Eu gosto do contato com essas pessoas, elas são muito
gentis e muito amigáveis. É emocionante”.
A Celestial
Green atua em um novo setor que se fortalece nos recônditos da Amazônia
brasileira: a venda créditos de carbono com base em desmatamento evitado,
focado nas florestas. Por estes créditos, a empresa tem procurado indígenas de
diversas etnias e teria assinado contratos com os Parintintin, do Amazonas, e
Karipuna do Amapá, segundo as suas páginas no twitter e facebook.
No dia 22 de
setembro do ano passado, o mesmo João Borges, da Celestial Green, foi a uma
reunião a respeito de um contrato de crédito de carbono com os índios
Munduruku, na Câmara Municipal de Jacareacanga, no Pará. Assim que ficou
sabendo, a missionária Izeldeti Almeida da Silva, que trabalha há dois anos com
os Munduruku, correu para lá: “Fui pega de surpresa. Depois falei com um dos
líderes e ele disse que fazia tempo que estavam negociando com um grupo pequeno
de lideranças”.
Quando chegou à
sala de reunião, diz a freira, o espaço estava cheio. Estavam todos lá:
caciques, cacicas, mulheres e crianças. Muitos vestidos para guerra: pintados,
com arcos e roupas tradicionais. A reunião foi fotografada pelos dois lados.
“Os guerreiros e as guerreiras estavam muito brabos com o pessoal que foram
falar lá em cima”, lembra o cacique Osmarino. “As guerreiras quase bateram
neles”.
Segundo
Izeldeti, o representante da empresa mal conseguiu falar. “Eles gritavam em voz
forte que estavam cansados de ser enganados. Disseram: ‘nós sabemos cuidar da
floresta, não precisa de ajuda’. As mulheres guerreiras ficaram na fila e cada
uma foi falando em Munduruku. Meteram a flecha perto do coração, passavam no
pescoço. O representante da empresa disse que não entendia a língua, mas que
não tava gostando porque era sinal de ameaça”. O contrato, no entanto, acabou
sendo assinado naquele mesmo dia – tanto a empresa quanto os indígenas
confirmam.
De acordo com
Izeldeti e Osmarino, porém, o contrato foi assinado contra a vontade da maioria
da população Munduruku."